terça-feira, 1 de setembro de 2015

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunham:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra,
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue,
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente.
Mas agora não sinto a sua falta.
(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)
Você não morreu: ausentou-se.
                            Manuel Bandeira
(Excertos do poema "A Mário de Andrade ausente", Manuel Bandeira, citado por Gilberto Lucena no texto O amigo Carlos Tavares e transcrito do livro O ALMANAQUE DA ALMA DE GILBERTO LUCENA, Ed Porto (org.), João Pessoa: Ideia, 1. ed., 2015, p. 52.)

Sugestão de postagem do amigo Adauto Neto

Nenhum comentário: