Chegou a hora de me
despedir de meus leitores. Não é um momento fácil _ nunca é. Mas ele se agrava
porque, com o fechamento do "Prosa", incorporado ao "Segundo
Caderno", desaparece um último posto de resistência na imprensa do sudeste
brasileiro. Os suplementos de literatura e pensamento já não existem mais. Um a
um, foram condenados e derrotados pela cegueira e pela insensatez dos novos
tempos. Comandado pela vigorosa Manya Millen, o "Prosa" resistia como
um último lugar de luta contra a repetição e a dificuldade de pensar com
independência. Isso, agora, também acabou.
Nosso mundo se define pelo
achatamento e pela degola. No lugar do diálogo, predominam o ódio e o desejo de
destruição. No lugar da tolerância, a intolerância e a rispidez, quando não a
agressão gratuita. É o mundo do Um _ em que todos dizem as mesmas coisas,
usando quase sempre as mesmas palavras. Um mundo em que a verdade, que todos
ostentam, de fato agoniza. Nesse universo, a literatura se impõe como um reduto
de resistência. A literatura é o lugar do diálogo, do múltiplo, da diferença.
Não é porque gosto de Clarice que devo odiar Rosa. Não é porque amo Pessoa que
devo desprezar Drummond. Ao contrário: na literatura (na arte) há lugar para
todos.
Uma pena que o
"Prosa" se acabe justamente em um momento em que nos sentimos
espremidos por vozes que repetem, sempre, os mesmos ataques e as mesmas
agressões. Nesse mundo de consensos nefastos e de clichês que encobertam a
arrogância, nesse mundo de doloroso silêncio que se apresenta como gritaria, a
literatura se torna um lugar cada vez mais precioso. Nela ainda é possível
divergir. Nela ainda é possível trocar ideias com lealdade e dialogar com
franqueza. Sabendo que o diálogo, em vez de sinal de fraqueza, é prova de
força. Lá se vai o "Prosa" com tudo o que ele significou de luta e de
aposta na criação.
A meus leitores, que me acompanharam lealmente durante mais de
oito anos, só posso dizer obrigado. E dizer, ainda, que conservem a coragem
porque a pluralidade e a liberdade vencerão o escândalo e a cegueira. Apesar de
tudo o que se diz e de tudo o que se destrói, ainda acredito muito no Brasil. É
com essa aposta não apenas no futuro, mas sobretudo no presente, que quero me
despedir de minha coluna e encerrar esse blog. Aos leitores, fica a certeza de
que certamente nos encontraremos em outros lugares. Nem a loucura do nazismo,
com suas fogueiras de livros, conseguiu destruir a literatura. Não tenho
dúvidas também: nesse mundo de estupidez e insolência, ela não só sobreviverá,
como se tornará cada vez mais forte.
José Castello
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