“Bati-te à porta, mas não respondeste.
Espreitei. Espreitei pelo postigo aberto, como que a desafiar o olhar de quem de soslaio passava.
Estava escuro. Inclinei-me mais um pouco. Já com a sensibilidade visual mais apurada, consegui vislumbrar um rasgo de luz ao fundo à esquerda. O cheiro era o mesmo que sempre conhecera. Fresco e doce, suave, mas enigmático. Detive-me. Hesitei em chamar por ti. Uma hesitação daquelas que temos quando jovens, quando a incerteza se abate. Fiquei a pensar, e mais uma vez olhei aquele corredor, onde as portas se cruzam, onde o chão acusa o desgaste dos anos, e onde a luz, ora trémula, ora insistente, faz brilhar a alma que sei ali habitar.
Bati-te à porta mas não respondeste.
Espreitei pelo postigo aberto, e ao fundo, lá estavas tu, vida! Fui ao teu encontro, e de mãos dadas seguimos.
Helena Palma
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