sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Vozes da Seca

Sequei os olhos de tanto o céu olhar, nenhuma lágrima, não posso nem chorar, nenhuma nuvem bonita pra chover e desse jeito não tem jeito pra viver.”

Os versos outrora escritos pelo cancioneiro Luiz Gonzaga bem que poderiam ter sido compostos nos dias atuais! A paisagem árida e cinzenta que tanto inspirou o rei do baião hoje serve de moldura e inspiração para as cantilenas de agrura e preces do pobre agricultor nordestino frente a mais uma seca confirmada e a previsão de outra anunciada.

O céu azul sem nuvem alguma, a barra do poente que não veio, o silêncio do carão na mata são sinais que instigam a sabedoria popular a decretar, num tom de desesperança e profecia, que teremos um inverno ruim para nossas bandas, trazendo desolação e angústia para o bravo povo do sertão.

Na Paraíba, especialmente, já há um misto de expectativa e de medo, sobretudo na região do alto-sertão, onde muitos açudes já secaram e as comunidades são abastecidas por carros pipa, muitos deles particulares, ao custo de R$ 120,00 reais.

Os que não dispõem dos recursos passam a compor uma infindável lista pública de espera pela água que lhe matará a sede.

A falta de estrutura e a ausência de políticas públicas específicas ao combate à seca aumenta ainda mais o sofrimento e o desassossego do agricultor nordestino. Se por um lado falta planejamento de ações públicas direcionadas, por outro, a situação se agrava à medida que são previstas chuvas bem abaixo da média para o próximo ano e mesmo assim em períodos descontínuos, tornando dificultoso assegurar a lavoura, a produção agrícola e até mesmo a sobrevivência do homem e seu rebanho no sertão nos anos vindouros.

De outro modo, se lhe falta o amparo político ao feijão sobra-lhe fé na providência divina sempre alimentada pelas preces iluminadas a lamparinas de querosene. O sertanejo, “traído pela sorte,” agarra-se à sua fé num místico de socorro e oração para minimizar o abandono material em que se encontra.

“Que Deus garanta ao menos água para os bichos”, roga a agricultora Maria da Conceição da zona rural de Pombal. “Deus é pai e pode mudar o tempo!” Profetiza o sertanejo Jairo Araújo Alves, agricultor do sitio Timbaúba, município de São Bentinho. 

Enquanto isso, o bravo sertanejo, firme e forte, continua como sempre esteve: a Deus dará!



Teófilo Júnior 

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