A vida é para mim, está se vendo,
uma felicidade sem repouso.
Eu nem sei mais de gozo, pois que o gozo
só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
disso, persisto em me enganar...
Eu ouço dizer que a vida
foi o bem precioso que adorei!
Foi meu pecado... horrendo
seria agora que a velhice avança,
que me sinto completo e além da sorte,
me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança.
Oh sono, vem... que eu quero amar a morte
com o memo engano com que amei a vida!
Mário de Andrade
Um comentário:
Que delícia os primeiros versos: "A vida é para mim, está-se vendo,/ uma felicidade sem repouso."
Quem nos dera uma vida assim.Ninguém se queixaria de cansaço. Felicidade sem repouso... Vamos nessa?
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