terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A vida é para mim, está se vendo,
uma felicidade sem repouso.
Eu nem sei mais de gozo, pois que o gozo
só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
disso, persisto em me enganar...

Eu ouço dizer que a vida
foi o bem precioso que adorei!
Foi meu pecado... horrendo
seria agora que a velhice avança,
que me sinto completo e além da sorte,
me agarrar a esta vida fementida.

Vou fazer do meu fim minha esperança.

Oh sono, vem... que eu quero amar a morte
com o memo engano com que amei a vida!


Mário de Andrade

Um comentário:

Sônia disse...

Que delícia os primeiros versos: "A vida é para mim, está-se vendo,/ uma felicidade sem repouso."

Quem nos dera uma vida assim.Ninguém se queixaria de cansaço. Felicidade sem repouso... Vamos nessa?