domingo, 2 de junho de 2013

Onde foi parar o tempo que ganhamos?


Onde foi parar o tempo que ganhamos? Lembro que na nossa infância tudo era docemente demorado e dificultoso. Haviam campinhos de futebol em cada terreno baldio e aparelho de televisão era coisa de poucas famílias.
 
Leite, compravámos na casa de D. Olivia do Leite e tínhamos que levar o nosso próprio vasilhame.
Minha mãe cozinhava e fazia bolo de caco usando banha de porco. Toda dona de casa tinha uma lata guardada debaixo da pia. Não havia geladeira e escapavámos com o filtro de água de barro de marca "São João" ou com o velho pote detrás da porta da cozinha.
Meu pai usava barbeador de metal onde apenas a lâmina (gillette) era trocada de vez em quando depois de usada a exaustão.
Havia um quintal em casa onde brincavámos debaixo de uma goiabeira com nossos carrinhos de flandre barato que nós mesmos fazíamos.
Minha avó tinha um enorme fogão de lenha que ficava aceso o dia inteiro esquentando suas chapas de ferro. Ela guardava potes com doce de leite na despensa, onde, sempre que ela se descuidava, íamos enfiar-lhe os dedos.
Não havia café solúvel. Após torrado e moído, era passado em um surrado coador de pano. As ruas cheiravam a café fresquinho.
Na loja do Orlando compravámos discos long plays e fitas K7.
Na cantina do Gilmar, no Colégio Josué Bezerra, vendia-se refresco Ki-Suco em garrafinhas de vidro reutilizáveis. Nada era descartável e as doenças mais comuns eram catapora e papeira.
Telefone, que custava os olhos da cara, tinha disco, fio e gancho. Nos orelhões se usavam fichas telefônicas.
Recado se mandava por bilhetes escritos em papel de embrulho. Namorados escreviam carta de amor. As pessoas postavam cartas nos correios. Não havia skype, msn nem e-mail.
Tudo era mais demorado, mais difícil, mais trabalhoso...
Hoje, tudo é mais rápido. Vivemos a era da automação tecnológica.  A TV é ligada por controle remoto. Telefone celular obedece a comando de voz e as cartas foram substituídas pelo correio eletrônico.
O computador aposentou a caneta e o papel. O celular virou item indispensável.
Entretanto, falta-nos tempo para tudo. Engolimos o almoço. Substituímos o jantar por um lanche rápido. Estamos sempre atrasados. Não conversamos mais com os vizinhos. Não colocamos mais as cadeiras nas calçadas.
Afinal, onde foi parar o tempo que ganhamos?
 
Teófilo Júnior

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