Leite, compravámos na casa de D.
Olivia do Leite e tínhamos que levar o nosso próprio vasilhame.
Minha mãe cozinhava e fazia bolo
de caco usando banha de porco. Toda dona de casa tinha uma lata guardada
debaixo da pia. Não havia geladeira e escapavámos com o filtro de água de barro
de marca "São João" ou com o velho pote detrás da porta da cozinha.
Meu pai usava barbeador de metal
onde apenas a lâmina (gillette) era
trocada de vez em quando depois de usada a exaustão.
Havia um quintal em casa onde
brincavámos debaixo de uma goiabeira com nossos carrinhos de flandre barato que
nós mesmos fazíamos.
Minha avó tinha um enorme fogão
de lenha que ficava aceso o dia inteiro esquentando suas chapas de ferro. Ela
guardava potes com doce de leite na despensa, onde, sempre que ela se descuidava, íamos
enfiar-lhe os dedos.
Não havia café solúvel. Após
torrado e moído, era passado em um surrado coador de pano. As ruas cheiravam a
café fresquinho.
Na loja do Orlando compravámos
discos long plays e fitas K7.
Na cantina do Gilmar, no Colégio
Josué Bezerra, vendia-se refresco Ki-Suco em garrafinhas de vidro
reutilizáveis. Nada era descartável e as doenças mais comuns eram catapora e
papeira.
Telefone, que custava os olhos da
cara, tinha disco, fio e gancho. Nos orelhões se usavam fichas telefônicas.
Recado se mandava por bilhetes
escritos em papel de embrulho. Namorados escreviam carta de amor. As pessoas
postavam cartas nos correios. Não havia skype, msn nem e-mail.
Tudo era mais demorado, mais
difícil, mais trabalhoso...
Hoje, tudo é mais rápido. Vivemos
a era da automação tecnológica. A TV é
ligada por controle remoto. Telefone celular obedece a comando de voz e as
cartas foram substituídas pelo correio eletrônico.
O computador aposentou a caneta e
o papel. O celular virou item indispensável.
Entretanto, falta-nos tempo para
tudo. Engolimos o almoço. Substituímos
o jantar por um lanche rápido. Estamos sempre atrasados. Não conversamos mais com os
vizinhos. Não colocamos mais as cadeiras nas calçadas.
Afinal, onde foi parar o tempo
que ganhamos?
Teófilo Júnior

Nenhum comentário:
Postar um comentário