A paisagem da minha infância não ficava em terra, mas no fim da terra – nas
frias, salgadas e movediças colinas do Atlântico. Às vezes penso que a minha
visão do mar é a mais límpida de todas as coisas que possuo. Recolho-a, exilada
que sou, como as roxas “pedras da sorte”, com uma orla branca a toda a volta,
que apanhava dantes, ou como a concha de um mexilhão azul, com o seu interior
irisado de unha de anjo; e, na rebentação da memória, as cores escurecem e
cintilam, todo um mundo primevo respira.
Respirar, andes de mais nada. Alguma coisa
respira. O meu próprio sopro? O sopro da minha mãe? Não, alguma outra coisa,
algo mais vasto, mais distante, mais sério, mais cansado.»
[Sylvia
Plath, Zé Susto e a Bíblia dos Sonhos; trad. Ana Luísa
Faria, Relógio d’Água 2013]
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