"[...] Dostoiévski-homem antece Dostoiévski-escritor. Até hoje, na
duplicidade tem-se visto, predominantemente, sua criatividade literária. Mas
esta nasceu nas profundezas de sua alma e do caráter como traço
inalienável de seu talento.' (Búrsov, 1974, p. 208)"
"Essa relação intrínseca entre o Dostoiévski-homem e o Dostoiévski-artista
permite perceber como traços pessoais, saídos de tais 'profundezas', desdobram-se
em elementos de composição literária através dos quais vemos estabelecida uma
homologia entre a forma pela qual o homem vê o mundo e a forma pela qual ele o
representa. A visão de mundo de Dostoiévski se alicerça em notória
elasticidade. Dostoiévski ouve todas as vozes ao seu redor, vê tudo em
formação, o mundo e o homem, nada para ele está concluído, razão por que a
categoria de formação é central em sua obra e na relação entre esta e a
realidade. Em estudo sintomaticamente denominado 'A negligência com a palavra
em Dostoiévski', o crítico, teórico e historiador da literatura e
cultura russa Dimitri Likhatchóv vê o mundo de Dostoiévski dominado pelo
dinamismo e por uma profunda sensação de instabilidade, como se todos os
fenômenos estivessem inacabados:
"'[...] estão inacabadas as idéias [...] está inacabada a narração, são
contraditórias as provas dos acontecimentos reunidas pelo narrador, são vagos
os detalhes [...] como se tudo se encontrasse em fase de elucidação e
'investigação'. Tudo está em formação [...]'"
(Dostoiévski: "Bobók;
tradução e análise do conto por Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2005, p.
70.)
Sugestão de postagem do amigo Adauto Neto
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