quarta-feira, 5 de junho de 2013

Fragmentos da análise de Paulo Bezerra sobre Dostoiévski


        "[...] Dostoiévski-homem antece Dostoiévski-escritor. Até hoje, na duplicidade tem-se visto, predominantemente, sua criatividade literária. Mas esta nasceu nas profundezas  de sua alma e do caráter como traço inalienável de seu talento.' (Búrsov, 1974, p. 208)"
 
     "Essa relação intrínseca entre o Dostoiévski-homem e o Dostoiévski-artista permite perceber como traços pessoais, saídos de tais 'profundezas', desdobram-se em elementos de composição literária através dos quais vemos estabelecida uma homologia entre a forma pela qual o homem vê o mundo e a forma pela qual ele o representa. A visão de mundo de Dostoiévski se alicerça em notória elasticidade. Dostoiévski ouve todas as vozes ao seu redor, vê tudo em formação, o mundo e o homem, nada para ele está concluído, razão por que a categoria de formação é central em sua obra e na relação entre esta e a realidade. Em estudo sintomaticamente denominado 'A negligência com a palavra em  Dostoiévski', o crítico, teórico e historiador da literatura e cultura russa Dimitri Likhatchóv vê o mundo de Dostoiévski dominado pelo dinamismo e por uma profunda sensação de instabilidade, como se todos os fenômenos estivessem inacabados:
 
         "'[...] estão inacabadas as idéias [...] está inacabada a narração, são contraditórias as provas dos acontecimentos reunidas pelo narrador, são vagos os detalhes [...] como se tudo se encontrasse em fase de elucidação e 'investigação'. Tudo está em formação [...]'"
 
(Dostoiévski: "Bobók; tradução e análise do conto por Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2005, p. 70.)
 
 
Sugestão de postagem do amigo Adauto Neto

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