sexta-feira, 7 de junho de 2013

Eu voltarei

Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho, 
servidor do próximo, 
honesto e simples, de pensamentos limpos.
 
Seremos padeiros e teremos padarias. 
Muitos filhos à nossa volta. 
Cada nascer de um filho
 será marcado com o plantio de uma árvore simbólica. 
A árvore de Paulo, a árvore de Manoel, 
a árvore de Ruth, a árvore de Roseta.
 
Seremos alegres e estaremos sempre a cantar. 
Nossas panificadoras terão feixes de trigo enfeitando suas portas, 
teremos uma fazenda e um Horto Florestal. 
Plantaremos o mogno, o jacarandá, 
o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro.
 Plantarei árvores para as gerações futuras.
 
Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros. 
Terão moinhos e serrarias e panificadoras.
Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens
 e mulheres, ligados profundamente 
ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar.
 
E eu morrerei tranqüilamente dentro de um campo de trigo ou 
milharal, ouvindo ao longe o cântico alegre dos ceifeiros. 
Eu voltarei... 
A pedra do meu túmulo 
será enfeitada de espigas de trigo 
e cereais quebrados 
minha oferta póstuma às formigas 
que têm suas casinhas subterra
 e aos pássaros cantores
que têm seus ninhos nas altas e floridas
 frondes.
 
Eu voltarei...


 
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas ou Cora Coralina, (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de 1985) foi poeta e contista brasileira. Produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás. Começou a escrever poemas aos 14 anos, porém, Publicou seu primeiro livro em 1965, aos 76 anos.

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