Uma diretora de escola de ensino fundamental é xingada de vagabunda e socada no
rosto por um aluno adolescente sem causar nenhuma indignação pública. É tragédia
anunciada.
Se nada for feito, os valores que orientam uma sociedade civilizada estão
ameaçados de extermínio. Parece exagero, dramalhão. Mas é realmente aterrador o
grau de indiferença diante do desrespeito e da banalização de violência
praticados por crianças e adolescentes contra seus professores.
Pior, não é de hoje. Essa indiferença está se transformando numa
insensibilidade patológica, incapacitante para a compreensão do que é certo e
errado; para a definição de limites.
Poucos são os que se detêm para analisar a causa de tanta agressão e
desrespeito ao professor primário. Exatamente aquele que deveria figurar como
alicerce da educação.
E o que provoca, afinal, esses conflitos quase corriqueiros entre esses
alunos e seus educadores? O que desencadeia as ações violentas, repentinas ou
não? O que faz com que esses profissionais de educação sintam-se cada vez mais
como uma classe trabalhadora de alto-risco?
Quais os verdadeiros motivos das agressões? Aparentemente, elas são “apenas”
respostas de alunos revoltados por terem sido contrariados ou repreendidos. E
não é raro que apareçam mães reforçando a pancadaria moral ou física contra os
“repreendedores”.
Geralmente, os agressores advêm de famílias desestruturadas e violentas há
mais de uma geração (ricas ou pobres). Não têm noção do significado de sala de
aula, nem da função do professor. Algumas até obrigam os filhos a irem à escola
unicamente para não perderem o Bolsa Família.
Por outro lado, também existem aqueles professores despreparados,
desiludidos, cansados, sem paciência ou vocação.
Fica claro, portanto, que a valorização do educador depende de como o Estado
o reconhece, dando-lhe incentivo, capacitação, prestígio e proteção.
A reportagem especial “Escolas do medo” (O Globo 31/03), de Vera Araújo,
Carla Rocha e Maria Elisa Alves, confirma que os casos de agressão nas escolas
de ensino fundamental têm aumentado. Porém, 80% deles não são registrados nas
delegacias devido à burocracia, ao medo.
Não, esta situação conflituosa não tem a ver com o mundo digital que costuma
dar bastante trabalho aos professores, principalmente, do ensino médio. (Embora
a garotada creia que informações soltas obtidas ali no Google equivalem a
conhecimento.)
Na questão da violência abordada aqui, a internet ainda não entrou em sala de
aula.
Ateneia Feijó é jornalista

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