segunda-feira, 15 de abril de 2013

A bela desculpa é a melhor declaração amorosa

Uma desculpa furada não vale uma pataca idem, um dólar esburacado do cine spaguetti ítalo-americano.
 
Uma desculpa mais os menos, dependendo do estágio do romance, tudo bem, ele(a) ainda tem crédito, morte a crédito, cutucaria o fdp do L. F. Céline.
 
Uma bela desculpa, porém, vale mais que uma declaração de amor, vale como o bis declaratório, a lua-de-mel restaurada favo a favo.
 
Uma bela desculpa comove e amplia o desejo, a fome, a larica, o apetite carnal e romântico.
 
Como vi agora na mocinha do filme “The Kentuckian –“Homem até o fim” na versão brasileira-, um western de 1955. Na direção e no papel principal, ele, Mr. Burt Lancaster.
 
-Foi a melhor desculpa que ouvi na vida! –derrete-se ela, uma singela professora de um “pueblo” perdido na América do século XIX.
 
Ela marcara de fazer um jantar para o cowboy-lenhador e o filho dele. O pobre homem tosco esqueceu o compromisso. A moça ficou muito triste.
 
Depois de horas, comida entregue às moscas da frieza e do abandono, o cavaleiro solitário bate à porta do rancho:
 
-Desculpa, nunca havia sido convidado para um jantar, a noite estava ideal para a caça, havia prometido ao pequeno Eli levá-lo comigo… Eu sou um homem que viveu a vida inteira nesse outro mundo selvagem.
 
A tradução não é literal, mas o sentimento é igualzinho a este que descrevo.
 
Derretida, a mocinha disse “entra e vamos comer a comida fria mesmo”. O cowboy rumava ao velho Oeste, mas acabou encostando seu cavalo.
 
Nada como um pequeno erro e uma grande desculpa.
 
Triste do homem que não carece de uma bela justificativa.
 
Perde a chance, por soberba ou cinismo-cafa, de refazer o sorriso no rosto de uma dama. Refazer o sorriso, como um ourives, é tão precioso como provocá-lo pela primeira vez.
 
A lição sempre esteve nos desbravadores do gênero westner. Tudo que sei sobre moral aprendi no faroeste. E as fitas com crianças no meio são as mais dignas, como “Shane” (“Os brutos também amam”), por exemplo, assunto para nossas futuras conversas aqui mesmo neste saloon onde os frouxos não têm vez.
 
Seja homem até o fim, amigo, é a única e digna saída.
 
 
Xico Sá

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