Quando nasci, duas mães se engalfinharam, discutindo de qual eu era. Levado a um juiz
repetente de Salomão, ele arbitrou que eu fosse cortado ao meio, não esclarecendo,
porém, se no sentido horizontal ou longitudinal. Esta inepta intervenção felizmente
não se consumou, porque as duas senhoras se mantiveram imperturbáveis, assim
demonstrando, cada uma, que eu era filho da outra.
Havendo o juiz me mandado andar, trotei alegremente até a mocidade, quando caí sentado de amores por uma cadeira, que me levou todo o dinheiro em ingressos ao seu camarote. Era uma cadeira de pernas cruzadas, que sentada comigo ficava, mas não dava jeito de deitar. Devido a esse seu obtuso ângulo puritano, acabei na lona: dando voltas no picadeiro cercado de exemplares bípedes variados. Cada noite de função a cadeira estava com um.
Tive também um caso com uma mesa, que eu julgava de cabeceira, mas era de botequim, onde vivia de equilibrismos com sua perna realmente única.
Desencantado das minhas afinidades eletivas, busquei o esquecimento chamando irmãos os animais. Dizia — Meus irmãos centauros!
Mas na verdade me sentia filho único, pois os sinais particulares que os tornavam excepcionais eram um certo ar animal, enquanto que eu sou todo lado humano.
Minhas pernas são perfeitamente normais como os braços da deusa hindu, dentro da sua espécie. Pelo outro lado, não me adorna vestígio de rabo e a maior prova de que me encontro no mais alto grau da escala evolutiva é de que no lugar disso sou provido de pudor.
Incapaz de andar de pernas nuas como impudentes cavalos não-motores, afinal realizei o meu sonho: hoje sou o perfeito garoto-propaganda de um paletó — o complemento ideal para a sua gravata — e duas calças de oito vincos permanentes e à prova de caimento.
— Próxima atração: comercial do perfeito garoto-propaganda do terno de uma calça e dois fundos. (Fundo musical).
Havendo o juiz me mandado andar, trotei alegremente até a mocidade, quando caí sentado de amores por uma cadeira, que me levou todo o dinheiro em ingressos ao seu camarote. Era uma cadeira de pernas cruzadas, que sentada comigo ficava, mas não dava jeito de deitar. Devido a esse seu obtuso ângulo puritano, acabei na lona: dando voltas no picadeiro cercado de exemplares bípedes variados. Cada noite de função a cadeira estava com um.
Tive também um caso com uma mesa, que eu julgava de cabeceira, mas era de botequim, onde vivia de equilibrismos com sua perna realmente única.
Desencantado das minhas afinidades eletivas, busquei o esquecimento chamando irmãos os animais. Dizia — Meus irmãos centauros!
Mas na verdade me sentia filho único, pois os sinais particulares que os tornavam excepcionais eram um certo ar animal, enquanto que eu sou todo lado humano.
Minhas pernas são perfeitamente normais como os braços da deusa hindu, dentro da sua espécie. Pelo outro lado, não me adorna vestígio de rabo e a maior prova de que me encontro no mais alto grau da escala evolutiva é de que no lugar disso sou provido de pudor.
Incapaz de andar de pernas nuas como impudentes cavalos não-motores, afinal realizei o meu sonho: hoje sou o perfeito garoto-propaganda de um paletó — o complemento ideal para a sua gravata — e duas calças de oito vincos permanentes e à prova de caimento.
— Próxima atração: comercial do perfeito garoto-propaganda do terno de uma calça e dois fundos. (Fundo musical).
Reginaldo José de Azevedo Fortuna
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