domingo, 14 de maio de 2017

O Deus Verme

Fator universal do transformismo,
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme — é o seu nome obscuro de batismo.
Jamais emprega o acérrimo exorcismo
Em sua diária ocupação funérea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo. 
Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão... 
Ah!Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!


Augusto dos Anjos 

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