quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Em alguma vida fui ave.

Guardo memória
de paisagens espraiadas
e de escarpas em voo rasante.


E sinto em meus pés
o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.


Liga-me à terra
uma nuvem e seu desleixo de brancura.


Vivo a golpes
com coração de asa
e tombo como um relâmpago
faminto de terra.


Guardo a pluma
que resta dentro do peito
como um homem guarda o seu nome
no travesseiro do tempo.


Em alguma ave fui vida.

Mia Couto
In Idades Cidades Divindades, 2007

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