sábado, 4 de junho de 2011

Dizem que sou modernista e... paciência! O certo é que jamais neguei as tradições brasileiras, as estudo e procuro continuar a meu modo dentro delas. É inconstestável que Gregório de Matos, Dirceu, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Euclides da Cunha, Machado de Assis, Bilac ou Vicente de Carvalho são mestres que dirigem a minha literatura. Eu os imito.

O que a gente carece é distinguir tradição e tradição. Tem tradições móveis e tradições imóveis. Aquelas são úteis, têm importância enorme, a gente as deve conservar talqualmente são porque elas se transformam pelo simples fato da mobilidade que têm. Assim por exemplo a cantiga, a poesia, a dança populares.

As tradições imóveis não evoluem por si mesmas. Na infinita maioria dos casos são prejudiciais. Algumas são perfeitamente ridículas que nem a "carroça" do rei da Inglaterra. Destas a gente só pode aproveitar o espírito, a psicologia e não a forma objetiva.

A tolice básica da arquitetura "neocolonial" está nisso: pegaram, a maioria, nas formas decorativas coloniais, reduziram elas a fórmulas, que ajuntaram rastaqüeramente, dentro do espírito de arrivismo que domina as partes progressistas do país. O resultado foi que 89 por cento das feitas são aleijões medonhos.


Mário de Andrade in O Turista Aprendiz

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