Tenho perdido a paciência com as parcas opções de divertimento da terrinha. Talvez seja até culpa minha mesmo. Coisas das despesas do envelhecer, talvez. O certo mesmo é que tenho saído muito pouco de casa. Ando meio recluso. E os amigos, sabedores desse meu não desprendimento, vez por outra, me visitam. Rola um bom papo, uma boa piada, uma distração e as novidades são postas em dia. Mas ontem não teve jeito. Cismei de passar uns instantes em um dessas dezenas de bares espalhados pela cidade, tomar refrigerante, ver gente nova e torcer pelo bom gosto musical do proprietário.
Tudo ia razoavelmente bem até que, de inopino, surge um desses intelectuais de plantão muito comum nessas cidadezinhas do interior, já com meia dúzia de cerveja no quengo e arrotando sapiência pelos poros. O homem conhecia de tudo. De futebol ao final da novela das oito, da queda da bovespa a remédio para panariço. E falava pelos cotovelos. Parecia ser um misto de advogado, médico, psicólogo, economista, analista político e desconfio que era até exímio conhecer das ciências ocultas.
Lá pelas tantas, depois de aulas de etiqueta, chamou o garçom, um rapazinho de seus 16 anos, ginasial incompleto, temperou a goela e arrematou num pedido: "faz favor, iscas de peixe ao molho rosê e uma porção de arroz sautlê". Que moléstia é essa, - deve ter imaginado o pobre rapaz, pelo menos isso foi o que eu pensei. O pedido era naturalmente impossível de ser servido naquele barzinho e, sobretudo, sequer entendido pelo rapazola.
Bom, ao menos o cara falou "rosado" e enriqueceu o meu minguado vocabulário gastronômico, embora persista até hoje a dúvida de que realmente aquele prato existe de verdade ou seria fruto da pura imaginação alcoólica.
De certo mesmo é que o episódio cuidou de lembrar-me do sempre e bom Ariano Suassuna, o grande Ariano, sempre ele.
Conta-nos Suassuna que certa vez um sociólogo foi a Taperoá-PB, a sua terra natal, para realizar uma pesquisa sociocultural. Queria medir o nível de conhecimento do homem do povo, naquela região. Encontrou um vendedor de peixes com o seu balaio cheio de tilápias, curimatãs, tucunarés, caraopebas e traíras. Passou a entrevistá-lo:
-O senhor sabe onde fica o Distrito Federal
-Eu não sei não, senhor.
-O senhor sabe o nome completo do Ministro da Educação?
-Eu não sei não, senhor.
-O senhor sabe a cotação do dólar?
-Nem sei o que é dólar, nem sei o que é cotação.
-Então o senhor é ignorante mesmo, não é?
O vendedor de peixes não se deu por vencido. Puxou uma tilápia e perguntou:
-O senhor sabe que peixe é este?
-Não sei, respondeu o sociólogo-entrevistador.
-O senhor saber que peixe?, perguntou o vendedor, exibindo uma curimatã.
-Não sei, respondeu o sociólogo.
-E o senhor sabe me dizer que peixe é este, perguntou pela terceira vez o vendedor, exibindo agora um tucuné.
-Não sei, de novo respondeu o sociólogo.
-Pois é, seu moço, concluiu o vendedor. Cada quá com a sua ignorância!
Um comentário:
Conclusão: O importante é ser FELIZ.
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