sábado, 28 de setembro de 2019

Um doido varrido

Às vezes temos revelações inesperadas décadas depois.

Há um sujeito casado com uma colega da mãe dos meus filhos. Por algum motivo, nestes mais de 20 anos pós-separação, eu cruzava muito com ele. Ele ou me cumprimentava efusivamente ou me ignorava por completo.

Eu achava que ele era de lua ou tinha um parafuso a menos.

Hoje, na saída do cinema, esgueirando-se entre as pessoas, passaram em fila a colega — oi, tudo bem? –, o tal sujeito — que me ignorou, agindo verdadeiramente como um grosso — e uma cópia idêntica dele — que me cumprimentou alegremente — oi, Milton, tudo bem, sempre no cinema ou com um livro na mão, hein? Ele até me abraçou e bateu nas minhas costas.

Pois é, o cara tem um irmão gêmeo com o mesmo corte de cabelo e tudo. E eu pensando que ele fosse doido varrido.

Milton Ribeiro 

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