Encontra-se nos escritos de Fiódor Dostoiévski (1821-1881) a reflexão profunda acerca dos desdobramentos do processo de racionalização que caracteriza a modernidade. A evolução do pensamento moderno, com seus reflexos no campo moral, filosófico, político e pedagógico traz à civilização ocidental desafios nunca antes enfrentados: a submissão total do dogma e da tradição ao exame crítico da razão se transcreve ao mundo prático em manifestações entusiásticas e preocupantes. Como lidar, ao mesmo tempo, com a inovação tecnológica e com o levante dos movimentos populares e com a perda de sentido e com o esfacelamento das linguagens sociais, traduzidas em ritos e hábitos sociais cristalizados ao longo de séculos, que parece lançar a sociedade russa numa tensão insolúvel?
Nas obras de Dostoiévski a polifonia que reúne vozes performáticas e profundamente anti-éticas representa o núcleo do romance e da questão humana colocada pelo autor. As muitas filosofias que se irradiam das transformações modernas desvelam a trágica condição do homem enquanto ser mortal, racional, amante ou crítico feroz do divino e tomam lugar nos seus romances através de seus personagens. O niilismo, o ateísmo, a revolução, “o espectro do comunismo”, a educação liberal, o amor ao próximo e à transcendência, e, mais especialmente o problema do mal são todos temas interligados e em constante diálogo no conjunto de seus escritos. A crítica de Dostoievski à modernidade pode, desse modo, ser transcrita aos seguintes termos: poderá o homem, no mundo moderno, encontrar um novo sentido para a existência? Onde, em suma, encontrar a legitimidade e os limites éticos, morais e legais para a ação humana?
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