domingo, 29 de setembro de 2019

Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada… 


Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio… 


Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo… 


Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!


David Mourão-Ferreira, in “Infinito Pessoal”

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