O Pessimismo é uma teoria bem consoladora para os que sofrem, porque
desindividualiza o sofrimento, alarga-o até o tornar uma lei universal, a
lei própria da Vida; portanto lhe tira o caráter pungente de uma
injustiça especial, cometida contra o sofredor por um Destino inimigo e
faccioso! Realmente o nosso mal sobretudo nos amarga quando contemplamos
ou imaginamos o bem do nosso vizinho - porque nos sentimos escolhidos e
destacados para a Infelicidade, podendo, como ele, ter nascido para a
Fortuna. Quem se queixaria de ser coxo - se toda a humanidade coxeasse? E
quais não seriam os urros, e a furiosa revolta do homem envolto na neve
e friagem e borrasca de um Inverno especial, organizado nos céus para o
envolver a ele unicamente - enquanto em redor toda a humanidade se
movesse na benignidade de uma Primavera? (...) O Pessimismo é excelente
para os Inertes, porque lhes atenua o desgracioso delito da Inércia.
Eça de Queirós, in 'A Cidade e as Serras'
Eça de Queirós, in 'A Cidade e as Serras'
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