sábado, 18 de junho de 2016

O casamento dos novos pobres

     Quando os ex ricos iam a festas de casamento era comum usarem smokings feitos em Londres (na Savile Row, of course) e as esposas roupas made Oscar de La Renta e sapatos Louboutin. Agora que são novos pobres terão que se acostumar a usar produções das lojas Renner ou C&A.

     Dos casamentos dos ricos eles guardam a viva memória das igrejas bem decoradas, com a noiva chegando num Mercedes Benz enorme. O que eles verão como novos pobres ao frequentarem uma festa de casamento? Ora, primeiramente dezenas de padrinhos (quanto mais padrinhos mais presentes) ao redor do altar, crianças correndo e gritando pra todo lado na igreja lotada, aquele calor enorme, e.… enfim entra a noiva. O comentário mais comum é: “- Olha a barriga dela, acho que está gravida”. No meio da cerimônia a igreja já está vazia porque os convidados correm para o salão de recepção a fim de conseguir os lugares mais próximos ao balcão de serviço; afinal todos querem ser os primeiros a serem servidos, e alguns tem medo de não sobrar comida se ficarem distantes da “fabrica”.

         Aliás, nesse item comida é de se destacar que os ex ricos, acostumados a degustar cascatas de camarões e lagostas vão ter que adaptar seus paladares a coxinhas e empadas. Mas enfim, sentados ao redor das mesas de plástico forradas com toalha de papel, cuidam logo de colocar nas bolsas das novas pobres o arranjo de flores artificiais que decora cada mesa. O som não é mais das caras bandas e DJ americano. Agora é na marreta; forró e pagode em meio ao calor que só fez aumentar, derretendo maquiagens nelas e fazendo poças nas axilas deles. Quem faz o som é um tio da noiva e na pista a mulherada se acaba dançando “adocica” e outros hits. As crianças gritam e correm cada vez mais.

          O instinto de sobrevivência vai ensinar aos novos pobres que não podem esperar o garçom chegar à mesa, porque quando aparece uma bandeja todo mundo se levanta e mete a mão. Difícil o estoque alcançar mais de 20 metros desde a “fabrica”.

        Cinco da manhã; os noivos exaustos e suados continuam sendo objeto de piadas terríveis. Um bêbado dança sozinho no salão com a gravata amarrada na testa, enquanto as convidadas escondem pedaços do bolo para levar. E finalmente a surpresa; na manhã que se anuncia os noivos ao saírem da festa levam um tremendo banho de mangueira, que sobra para os novos pobres.

         Ensopados, aceitam uma carona no Chevette do garçom.

Marcos Pires 

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