Eita docinho gostosim da peste. O gosto é saboroso e de quebra contém muitas substâncias nutritivas. A rapadura é uma doçura originária dos Açores,
território português, embrenhado em ilhas do Oceano Pacífico. Todavia, o
Nordeste brasileiro adotou a fabricação do produto nos primeiros
engenhos que surgiram na Região, no século Dezessete.
O nome rapadura deriva da raspagem que os cabocos retiravam do
tacho de mel, cozinhado. O tacho é utilizado para ferver o caldo
extraído da moagem da cana de açúcar. Fervido o caldo faz-se o doce. A
rapadura. No tempo das moagens da cana o nordestino pula de alegria.
Vibra com a fartura de rapadura, batida e alfenim.
Fora o Nordeste brasileiro, outros países da América Latina também fabricam a rapadura.
No entanto, adotam nomes diferentes. A Colômbia é forte produtora
mundial de rapadura, seguida da Venezuela, México, Equador e Guatemala.
No entanto, como é uma das principais culturas do planeta, mais de cem
países também cultivam a cana-de-açúcar em seus territórios. A cultura serve inclusive para gerar empregos no meio rural,
embora os donos de engenho reclamem dos altos custos de produção e do
baixo preço de venda dos derivados da cana. Reclamação mais frequente no
Brasil.
Mas, no mundo, os dois maiores produtores são o Brasil e a Índia que, juntos, se responsabilizam pela metade da produção mundial.
A diferença entre os países se concentra no modelo de produção
agrícola. O Brasil prima em concentrar a cultura nas mãos de grandes
produtores, enquanto a Índia se contenta em garantir apenas a
participação de poucos produtores.
Entretanto, no solo brasileiro a cana-de-açúcar não chega aos pés da produção de grãos.
A maior extensão da área agrícola é reservada para a produção de trigo,
arroz, milho e soja. Espalhada por milhares de hectares ao longo do
território nacional.
No solo verde e amarelo, embora seja considerada uma cultura temporária, a cana-de-açúcar ocupa a terceira posição em termos de produção, depois da cultura de soja e milho. Entretanto, por causa da variação entre o Norte e o Sul, praticamente a safra no Brasil é durante o ano inteiro.
Depois do aparecimento do Proálcool em 1975, a cana de açúcar vem se expandindo no Brasil, para ceder espaço ao etanol,
no consumo de combustível, excepcionalmente após a chegada do veículo
flex fuel. O etanol, como se sabe é um biocombustível, renovável, já que
não se origina de material fóssil, como o petróleo. No entanto, as
estiagens fecharam muitos engenhos no Nordeste.
Com o álcool, a área dedicada à cana-de açúcar tem se expandido.
Três detalhes são considerados na questão. A busca pela produtividade, o
impacto ambiental e a proibição da queima da cana no campo acontecer
numa distância inferior a um quilometro de centros urbanos.
Embora exista tecnologia, o costume da queima permanece praticada no
canavial, particularmente no Nordeste. A crítica à queima tem
fundamento. Mata a fauna, agride a flora ao redor, polui, degrada o
solo, menospreza os melhoramentos genéticos. Um detalhe. No Sudeste, nos
estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais e note do Paraná, a
mecanização na colheita da cana já atinge 97%.
Sem sombra de dúvidas, a cultura da cana-de-açúcar traz vantagens e desvantagens econômicas.
Apesar de valorizar o agronegócio, reduzir a emissão de gases na
atmosfera, gerar empregos e renda, ser excelente fonte de energia,
mediante a queima do bagaço da planta, oferecer alta competitividade, em
função do baixo custo, a cultura da cana-de-açúcar traz inconvenientes.
Exige extensas áreas para o plantio, derruba florestas, causa impacto
ambiental, necessita de muita água, invade o espaço que poderia ser
dedicada a culturas que exijam menos terrenos e sejam mais produtivas.
Na safra 2019/19, a produção nacional ficou em 620,44 milhões de toneladas,
um pouco menor do registrado na safra anterior. A área colhida também
foi menor, ficou em 8,59 milhões de hectares. A produção de açúcar bateu
em 20,4 milhões de toneladas. Já com relação ao etanol, houve
acréscimo. Foram produzidos 33,14 bilhões de litros.
A redução da produção foi causada por alguns fatores. Problemas
climáticos, queda de produtividade e devolução de terras arrendadas que
aconteceram no Sul. Todavia, este problema parece ser temporário. Um
dia, passa.
O Nordeste é a região que mais produz rapadura no Brasil. Compete ao
Ceará ostentar o título de maior produtor do melaço nordestino. Uma
invenção parece cativar a tradição de rapadura no Nordeste.
Acrescentando outros ingredientes, o consumo de rapadura tem
despertado a atenção de turistas que visitam os engenhos para conhecer a
centenária cultura. Graças às pesquisas, surgiram algumas
variedades da cana de açúcar com alto teor de sacarose e biomassa, o
setor sucroalcooleiro pode se beneficiar com a descoberta de maior
potencial da planta para gerar açúcar e energia.
Embora seja fruto de um processamento artesanal, o poder de
distribuição de renda no país, especialmente no Nordeste, concede à
rapadura a indiscutível capacidade de reunir as famílias de pequenos
produtores rurais em torno de um ideal. Trabalhar, produzir,
garantir alimentação à família e na época escolar, obter renda. Apurar
dinheiro para o sustento de casa. Aliás, o açúcar mascavo, subproduto da
cana, faz parte da cesta básica.
Afinal, o produto acabado da cana-de-açúcar, enraizado na cultura
nordestina, fortalece uma atividade de enorme poderio econômico e
social, por reunir inúmeras famílias. Além de garantir ao país o
privilégio de ser o responsável por 45% do açúcar consumido no mundo.
Carlos Ivan - Jornal da Besta Fubana
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