sexta-feira, 20 de março de 2020

Taxitramas

Sabe você que estava passando pela entrada do cemitério João XXIII por volta da meia noite? Você que me viu tirando uma morena aparentemente desacordada de dentro do meu táxi, carregando-a no colo, às pressas, seguido por dois cachorros bichon frisé, que latiam histéricos, como se perguntassem onde eu estava levando a dona deles? Sabe você? Eu reconheci você, mesmo em meio àquela loucura, eu notei você, ali, me observando, boca aberta, intrigada, assistindo aquela cena aparentemente incompreensível: o alerta do táxi ligado, as portas abertas, os faróis acesos, a morena desfalecida (aparentemente), o porteiro do cemitério aturdido, tentando evitar minha passagem, os cachorros mordendo meus calcanhares... Eu sei que você me segue aqui no Facebook, que deve estar esperando que eu conte o que estava acontecendo, você provavelmente está lendo esse post. É uma pena que você tenha ido embora. Depois que as viaturas da polícia chegaram, o pessoal da perícia, depois que as coisas se acalmaram, eu procurei por você, mas não a encontrei mais. Eu queria te explicar pessoalmente o que estava rolando alí, para que você não ficasse com uma impressão errada deste seu amigo taxista. É uma pena que você tenha sumido sem saber a verdade, uma pena que você tenha que esperar para saber em detalhes o que rolou ontem à noite. Lamento, mas essa história (entre outras tantas) está reservada para quem comprar meu próximo livro.

Mauro Castro 

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