terça-feira, 3 de março de 2020

No trem de ferro

Vinha sentado gravemente, mudo,
D'olhos baixos, obeso e venerando,
Mãos cruzadas no ventre, ruminando
Velhas rezas ou santo e duro estudo.

Ergue tímido o olhar, triste; contudo,
É paternal e bom; de quando em quando
Ao céu o volve, ao céu que vai passando
Pelas vidraças, empoeirado. Tudo

Nele respira a fé e cheira a igreja.
Por todos os seus poros Deus poreja.
Do seu breviário agora passa as folhas.

Pio varão! para este já começa
O reino do Senhor!... mas sai à pressa
E cai-lhe da batina — um saca-rolhas!



Lúcio de Mendonça

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