sábado, 16 de novembro de 2019


A presença de cães em protestos no Chile parece ser uma tradição daquele país e acho curioso que ninguém tenha tentado buscar uma explicação para o vínculo entre os vira-latas e as manifestações políticas.

Afinal, por que isso não acontece em outros países que também têm protestos de rua com bastante frequência, como a Argentina?

Tenho uma teoria, mas é apenas isso: uma teoria. Se alguém tiver outros palpites é só deixar um comentário.

Fui ao Chile uma vez, no ano passado, e me chamou a atenção a quantidade de cães dormindo e perambulando pelas ruas de Santiago. Um número de vira-latas bem acima do que estamos acostumados a ver no Brasil, por exemplo. E a maioria desses cães me pareceu muito bem tratada, apesar de viver na rua. Como isso era possível?

Perguntando a alguns chilenos, descobri que nem todos aqueles cães eram "de rua". Muitos tinham donos. Ocorre que há uma lei, não sei se vigente apenas em Santiago ou no país todo, que proíbe cães dentro de apartamentos. A solução encontrada então foi criá-los em total liberdade.

Comecei a reparar e vi que algumas pessoas desciam dos prédios com potes de ração e de água para dar aos cães, que dormiam na calçada ou na praça em frente. Por isso que raramente você verá um cão na rua revirando lixo ou parado na frente de um restaurante à espera dos restos. A sociedade de alguma forma os protege porque quase todo mundo tem um cachorro no Chile.

Daí me veio uma explicação possível: ao contrário dos cães de São Paulo ou do Rio de Janeiro, que são criados dentro de apartamentos e só saem acompanhados pelos donos, os cães de Santiago não têm medo da multidão porque estão acostumados com ela e com o ritmo próprio da rua.

O fato de os cães chilenos ficarem sempre ao lado do povo contra a polícia é um detalhe interessante também. Eu poderia dizer que essa é a prova de que os cães são mais inteligentes do que muitas pessoas que conheço, mas prefiro acreditar que isso acontece porque os cães se habituaram a participar de piquetes ao lado dos trabalhadores e passaram a identificar na polícia uma ameaça.

Há um documentário chileno, sem legendas, que fala justamente sobre isso, destacando a participação de um cachorro preto que foi visto à frente de várias manifestações em 2013 e virou símbolo da resistência contra o neoliberalismo no Chile. Aqui está o link:

https://youtu.be/wiEFhAAWCiw

PS: Matias Baglietto é o responsável pela fotografia que ilustra o texto. Uma obra de arte.



 
Bruno Ribeiro 

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