terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Luiz Mococa

Na semana passada perdi um grande amigo de infância. Ele era da segunda leva de amizades que fiz aqui em Vitória, a partir de 1958, A primeira, com a garotada da antiga Rua da Árvore e a outra com as mais de trinta crianças que moravam numa das duas quadras da Rua Madeira de Freitas. Luiz Fernando era um dos cinco filhos de seu Anacleto e morava em frente da nossa casa. Naquele tempo sem TV, os vizinhos se conheciam e muitos se frequentavam. As amizades surgiam nas brincadeiras de rua, nos papos de varanda e se consolidavam nos banhos de mar, nas pescarias e nas festas do Praia Tenis Club. Nos finais de ano, nossa rua era fechada ao trânsito para comemorar o aniversário de dona Natalice, a mãe dele. Somos a Turma da Madeirinha.

Luiz Mococa era uma pessoa ímpar e sua morte me traz de volta um tempo muito bom que vivemos juntos, incluindo as peladas disputadas no barro da rua e na areia de Camburi e os passeios no seu jipe Candango. Como escoteiros do mar, acampamos na Ilha do Frade, onde chegamos a bordo de um escaler da Marinha. Ele lia tudo sobre a Segunda Guerra. No tempo dos festivais, Luiz aprendeu a tocar violão e a cantar “Gatinha manhosa”, seu hit. Nos formamos em 1970 e pra comemorar, junto com mais uns dez colegas, fomos numa Kombi alugada até o Uruguai, a caminho de Bariloche. Saudosista, sempre me sugeria contar aquela viagem em crônica.

Luiz era uma pessoa doce que comia tanto quanto um passarinho e gostava de uma cachacinha. Quanto mais bebia, mais calado ficava, piscando mais do que o normal. Ele adorava fogo, acender fogueira e soltar foguetes. Habilidoso, começou a fazer, com madeira e papelão, miniaturas de barcos, veleiros e aviões. Na quinta feira passada, conversamos alegremente na confraternização da nossa turma de engenharia. Discretíssimo e com certa cumplicidade, ele me mostrou suas obras mais recentes no celular. Combinamos fotografar tudo com lentes potentes e luz adequada e fomos pra casa dormir. Na sexta feira, o cemitério de Santo Antônio estava lotado de gente incrédula.
 
Álvaro Abreu

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