terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Adeus

Adeus à terra que me acolheu com ternura
e após com ódio revelou sua face escura.
Adeus ao mar imenso, adeus ao vento,
ao fogo. Despeço-me. Adeus ao lamento
da tarde. Não há mais voz nessa garganta
que quer urrar de dor, mas não adianta.
Adeus, adeus, palavra solitária e errante
sempre cismada em nos levar adiante.
Aqui são lagos cheios de cores e luzes,
aí é o mármore, eternizado em cruzes,
cheiro de flores no ar queixoso e triste
como em nenhum outro lugar existe.
Adeus aos trajes ridículos, aos vexames,
ao corpo débil, aos médicos, aos exames.
Adeus aos olhos, ouvidos, dedos, cabeça
e a tudo ainda que talvez me esqueça.
Adeus aos amigos, mamãe, adeus à Poesia:
já vem a barca do Caronte à bruma fria.

Paulo Fichtner

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