A divulgação dos resultados alcançados pelas escolas brasileiras no Enem representa uma oportunidade para se discutir o ensino médio no Brasil. Isso é muito mais urgente do que se entreter com rankings em que as escolas se diferenciam por casas decimais e que ignoram fatores fundamentais como o impacto das condições de origem dos alunos.
O Enem mostra que o ensino médio está longe de responder aos anseios da sociedade e dos jovens. É o retrato de um sistema intrinsecamente desigual, incapaz de desenvolver competências essenciais para um mundo que exige bem mais do que o domínio de conteúdos, mas a capacidade de pensar criticamente, resolver problemas, interpretar a realidade à luz das informações disponíveis.
Então, o que fazer? No Brasil, precisamos deixar para trás características históricas do ensino, como o conteudismo, que se reflete no excesso de disciplinas, em aulas em que o aluno é um coadjuvante apático, a todo tempo a se perguntar: “E isso serve para quê?”
O Ensino Médio, em modalidade regular, técnica (ou integrada), na escola pública ou privada, quer atenda população socialmente vulnerável, quer atenda os ricos, deve formar cidadãos capazes de atuar em contextos cambiantes, que demandam conhecimentos acima do básico, competências cognitivas altamente desenvolvidas.
Para isso, será necessário mexer no tempo e no espaço da escola, e, claro, na formação dos professores e no próprio projeto pedagógico.
O Ensino Médio deve ser concebido a partir de uma perspectiva integral, com ampliação do tempo de permanência do aluno na escola, formação acadêmica interdisciplinar, espaço para as dimensões da cultura e da arte e, sem dúvida, conexões claras com os desafios do mundo do trabalho.
As aulas devem ser espaços dinâmicos de experimentação, com o uso criativo da tecnologia, simulações, projetos reais, trocas culturais e sociais. Os adolescentes pedem desafios e, por isso, a escola precisa levá-los além dos limites confortáveis, por exemplo, abrindo espaço para projetos de intervenção social.
O Ensino Médio precisa também formar jovens protagonistas, que tenham posturas de liderança e busquem a inovação — um conceito-chave no século XXI. E, principalmente, que queiram fazer a diferença. E isso não é uma retórica, mas características buscadas indistintamente por empresas, ONGs, governos.
Há muito a fazer. A boa notícia é que não será preciso tirar coelhos da cartola. No Brasil, já temos muitas experiências bem-sucedidas, na rede privada, nas escolas públicas e em projetos sociais, que devem ser compartilhadas. Todas têm um traço em comum: mostram que o problema não está na juventude. Tudo o que os jovens querem é uma escola que lhes ofereça uma oportunidade de mudar o mundo.
Claudia Fadel é diretora da Escola Sesc do Ensino Médio e David Holmes é professor.
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