Não tenho nem pretendo ter procuração das louras para defendê-las das acusações de burrice e cafonice, que estão se avolumando nos últimos tempos contra elas. Leio num jornal que as louras não estão com nada, nem no cinema, na TV, nem na vida em geral. As deusas de alguns anos atrás estão com dificuldade para renovar contrato e já não causam gritos e sussurros por onde passam. Pior: uma caçadora de talentos, dessas que dão dicas para empregos de futuro, recomenda que as pretendentes façam as unhas, usem vestidos comportados, falem só o essencial mas em hipótese alguma sejam louras, nem naturais nem artificiais. "O quê que é isso?" - era o bordão de famoso locutor esportivo do passado, quando via jogadas violentas que mereciam cartão vermelho. É o que me pergunto: "O quê que é isso?" Onde está a lei que pune a discriminação, seja a discriminação que for? Não aceito a teoria de que a onda contra as louras possa ser atribuída ao despeito, à inveja. O furo deve ser mais em cima. O que há de morena burra também não é mole. Quanto à beleza em si, há gosto para tudo. Helena de Tróia, segundo a tradição, é a mulher mais bonita da história e da lenda. Segundo a tradição, era loura, diferenciando-se de outras mulheres do Mediterrâneo que costumam ser morenas. E a mulher mais inteligente que conheci era loura, uma loura até suspeita, parecia artificial, no detestável estilo de "amarelo ovo". Não chegava a ser feia mas não era bonita, embora não merecesse ser jogada fora. Herdei de meu pai um ditado esquisito: "Fugir de gato que faz him e de mulher que sabe latim". Esta loura não sabia latim mas sabia tudo da vida e o pouco que me ensinou foi o bastante. Se não cheguei lá, a culpa não foi dela.
Carlos Heitor Cony
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