sábado, 28 de abril de 2012

Democracia ou felicidade política

Democracia não é apenas voto, é a atitude cotidiana capaz de revelar o sentido da “felicidade política”

Além do desejo de felicidade comum a cada pessoa individual, há um desejo ao qual precisamos hoje dar nome próprio, o desejo da felicidade política. No Brasil a política é, há tempos, e cada vez com mais veemência, destruída por mascarados e transformada num território de ninguém. A idéia de política como espaço da realização da comunidade, de cada indivíduo que se une em torno do bem comum, foi destruída há muito tempo. Talvez nem tenha nascido entre nós. De qualquer modo, é preciso assegurar que haja ainda sementes desta idéia que possam alimentar-nos no futuro. Do contrário, sem rumo político, sem a idéia do bem para todos, não haverá esperança, apenas a colonização e a escravidão com a qual iniciamos a história que precisamos a cada dia superar em nosso presente.

Não sabemos muito bem o que é política além do baile de máscaras que vemos pelos jornais, mas sabemos que uma das palavras que traduz sua incógnita é a democracia. Podemos dizer que ser feliz politicamente é hoje realizar a democracia. A democracia é uma palavra capaz de traduzir toda a nossa utopia política, nosso desejo de uma sociedade em que a vida boa seja a possibilidade geral. Se nem falamos tanto em política, pois perdemos seu sentido, a democracia parece ser a palavra mágica ainda capaz de assegurar este sentido perdido. Uma vida em nome da democracia parece a todos nós uma vida boa, porque justa. É preciso a cada dia revalidar o batismo e rever o que nasce sob a luz de nosso sonho. E é preciso sonhar e reinventar o futuro.

Apesar disso jamais, desde sua invenção, abandonamos a democracia. A modernidade refez o teor da democracia traduzindo-a em nossa capacidade de voto: é a democracia representativa. Quem eleger, como eleger, são questões que nos martelam a mente dia após dia, sobretudo, em tempos de eleição. Mas será só isso? A democracia representativa é prática, mas pouco utópica, exige uma resposta imediata. Nosso tempo é rei no elogio da prática e desdenhoso dos ideais, postura que precisa com urgência ser revista.

A pergunta que precisamos colocar hoje nos toca num ponto grave: será possível manter o sentido da política e mesmo da democracia se pensamos que a democracia é apenas o voto? Somos apenas inábeis para o voto? Ou será que é toda a concepção da política que está hoje perdida? Não seria a hora de re-colocar em cena e com toda a força a idéia de uma “felicidade política”?



Marcia Tiburi

* Publicado originalmente na Revista BemStar. São Paulo: Ed. Lua. Número 16.

2 comentários:

Jairo Alves disse...

É com este fantasma mascarado que também vejo a chamada "Democricia representativa" num país onde, os seus representantes, não são os políticos, nem muito menos a justa palavra "chave" no vocabulário das pessoas, mas sim, somos nós, as próprias "chaves", as meras escolhas por um mico que iremos pagar o preço bem pago entre a cidade e os candidatos a quem vos vendemos, tão retalhado, a nossa consciencia absurda! Temos esta mania de nos verdemos no Brasil a preço de bananas. Será que não somos bananas em meio de feira ou em salada na mesa da política brasileira? Será que não damos tanta liberdade a um ato corrupto, que passamos a adotá-lo como regra entre a gente? Nós somos hoje pessoas manobradas e vendidas a preço de bananas e a preço de ficarmos sempre na maior necessidade de um governo, de uma boa política, de um tal representante em nosso meio! Estamos brincando com a nossa saúde, brincando com a educação, pois nunca entendemos o que é Democracia, nem tão menos o que estamos compartilhando para o cais, quando éramos para, pelo menos, procurarmos o significado do que queremos e os valores que mereceríamos, se nos estivessemos entendido, e não vendida a consciente e o bem de todos!

27 de maio de 2012

vagner camilotti disse...

Será que a democracia é o ideal político? Sócrates disse que não. O que a maioria deseja pode não ser o ideal para a sociedade, uma vez que pode estar baseado em um consenso errôneo da maioria. Sócrates disse que o ideal seria que qualquer decisão deveria ser tomada a partir de uma análise lógica de suas causas e efeitos. Somente assim uma decisão poderia chegar o mais próximo de ser acertada. A democracia é algo que busca contentar, mas não o que seria o ideal político.