quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Chovia...chovia

Naquela tarde, como chovia!

Me lembro de que a chuva caia
lá fora
sem parar,
e seu surdo rumor até parecia
um sussurro de quem chora
ou uma cantiga de embalar...

Me lembro de que tu chegaste
inquieta, ansiosa,
mas logo te aconchegaste
em meus braços, quietinha...
(...enroladinha como uma gatinha...)

E eu quase não sabia que fazer:
se de encontro ao meu peito te deixava adormecer...
se te mantinha acordada, para seres minha...

Me lembro que chovia, chovia sem parar...
E que a chuva caía a turvar as vidraças
anoitecendo o quarto em tons baços...
Me lembro de que te sentia
aconchegada em meus braços...
Me lembro de que chovia...
E de que era bom porque chovia,
e porque estavas alí, e porque eu te queria...
Sim, me lembro que tudo era bom...
E que a chuva caía, caía,
monótona, sem parar,
naquele mesmo tom...

Naquela tarde, amor, como chovia!

Agora, quando longe de ti, nem sou mais eu
em minha melancolia,
não posso mais ouvir a chuva cair
que não fique a lembrar tudo que aconteceu
naquele dia...

Naquele dia
enquanto chovia...


JG de Araujo Jorge
(Poema extraído do livro A SÓS... , 1958 )

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