quarta-feira, 9 de julho de 2008

Só na lembrança é que se pode voltar


Durante a festa do Rosário de Pombal, o Parque de diversões MAIA, pertencente ao campinense Zé Maia, foi o pioneiro em trazer novidades para crianças e adultos na nossa tradicional festa. Nos idos de 1963 tinha este parque, um carrossel de cavalinhos, um chapéu mexicano quatro canoas, duas rodas Gigantes, sendo uma grande e a outra menor.

Na parte onde ficava o eixo central de cada roda gigante, era colocado um projetor de SOM (difusora), direcionados para a Rua Nova, com um som muito bonito e agradável para aquela época que só existia som monofônico. Tinha um locutor chamado LUIZ, de cor morena, pouco alfabetizado, mas de voz grave e impressionante, que dentro do pequeno Studio dizia: “você está ouvindo a PR-Maia, Radio Amplificador ponto 3, pertencente ao Parque de Diversões Maia, o inimigo número 1 da tristeza.

O pequeno STUDIO DE SOM era decorado com capas de Lps, no formato de 12 polegadas dos seguintes cantores: Waldick Soriano, Orlando Dias, Silvinho, Bienvenido Granda, Ataulfo Alves, e, até mesmo Jackson do Pandeiro, que eram os sucessos daquele bom tempo. Existia ainda um retrato em preto e branco de Zé Maia no tamanho 12 X 25 cm, que era o dono do Parque Maia. Dois amplificadores de SOM e um toca discos, todos da melhor qualidade, transmitiam alegria e animavam a festa com os sucessos daquela bela época.

Lembro-me da música de um gaúcho de “São Leopoldo,” que após acompanhar Teixeirinha com seu acordeom em excursões pelo Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina, gravou pela PHILLIPS DO BRASIL S/A, um LP intitulado: “Um Gaúcho Forasteiro”. Desse Lp, a gravadora extraiu um 78rpm, que foi sucesso no país inteiro e chegou a pombal exatamente na festa do Rosário de 1963. A música era de autoria de Dorico: “Amor Fingido”. Na outra face do disco, “Noite Escura”, sucessos que permaneceram nas paradas por quase dois anos. Estas músicas tocavam incessantemente tanto no Parque Maia, como na radiola do Bar Centenário, recentemente inaugurado e de propriedade dos irmãos: Sales e Nilton Venceslau. Até hoje ainda conservo em minha discoteca essa raridade em 78 rpm originalíssima.

Nesse ano a que me refiro, eu tinha apenas 16 anos. Um rapaz pobre, filho de uma viúva, liso, sem dinheiro no bolso. Ficava na frente do parque, louco de vontade pra rodar nos cavalinhos, mas não tinha dinheiro. Mas a música sempre foi a minha maior paixão. Sempre fui apaixonado pelos discos. Ficava extasiado em ver capas de Lps e por isso estava ali todas as noites pra observar tudo aquilo. Em ver tudo isso, eu acabava esquecendo dos cavalinhos do parque.
Duas semanas depois, o Parque Maia foi embora. Tinha terminado a festa do Rosário, mas a música de Ademar Silva não me saía da mente. Passados alguns meses, já bem perto do fim do ano, sem ter o que fazer, ia passando pela calçada da rua. Cel. José Fernandes, bem próximo ao Grande Hotel, quando ouvi a música de Ademar Silva. Parei, escutei, virei de um lado para outro e pude observar que o som vinha da casa de Napoleão da Padaria. Não tive dúvidas, era a radiola de Claudete que estava tocando. Aproximei-me daquela casa em estilo antigo, frente para o nascente, janela escancarada, porta aberta de cima abaixo.

Aí vi um rapaizinho franzino, branco como uma vela, cabelo claro e escorrido pela testa, de cócora, manuseando o toca disco “Garrad” e tocando músicas. Assim que parei na porta, a música terminou, pois um disco de 78 Rpm tem somente uma faixa de cada lado e termina rápido. O jovem rapaz logo tirou o disco (que era emprestado da Loja de Zé de Tó), e colocou outro de ANISIO SILVA. Desta vez um LP de l2 faixas, recheado de boleros e guarânias. “Alguém me disse”, era a primeira faixa. Após fechar a tampa da radiola, levantou-se e disse: Entre! você gosta de música? E foi logo me mostrando a capa do LP que ainda me recordo o MFB 3042 da ODEON. Naquele instante eu conheci o melhor amigo meu: Clemildo Brunet. 44 anos de amizade, sempre o mesmo homem sincero e leal.

Pois bem, o tempo foi passando, se modernizando, as tradições se acabando, as difusoras dos parques também desapareceram, tudo mudou. Nem o Parque Maia existe mais. Hoje são caixas de som que sonorizam os parques nas noites de festa. Nem o Studio onde se transmitia não se vê mais. A gente escuta apenas o som, sem saber de onde ele vem. Tudo ficou invisível. A onda agora é um televisor conjugado com um aparelho de DVD, mostrando imagens da Banda Aviões do Forró, com mulheres quase nuas acompanhadas de músicas pornográficas, muito diferentes daquelas que se ouvia nos anos 60.

O bom daquele tempo era ouvir um locutor semi- analfabeto, atendendo aos pedidos musicais, com cinco ou seis canas na cabeça, falando errado, encachaçado, já com a voz embaraçada puxando pelo “r” e pelos “ss”, pensando que estava abafando e paquerando a mocinha ingênua que o ouvia falar.


O tempo passou.

Envelhecemos e não percebemos.

Hoje,

“SÓ NA LEMBRANÇA É QUE SE PODE VOLTAR”.


Genival Severo
Radialista

Um comentário:

Unknown disse...

Ótima narrativa de Genival Severo. No meu tempo, um pouco mais recente, por volta do final das décadas de 70 e início dos anos 80 o que tocava mesmo era as músicas de Carlos Alexandre, do tipo: Feiticeira...feiticeieiraaaa...: Ou então aquela que dizia em seu refrão: Eu quero passar um final de semana contigooo...: tinha tambem: Você é a ciganinhaaa, dona do meu coraçãooo: e enquanto a música saía meio rouca daquelas "cornetas", observávamos olhando para cima a roda gigante girar. Muita gente preferia o "Mexicano",pois quando se sentava neste carrosel de cadeiras, o bom mesmo era empurrar com os pés, quem estava na frente, e daí , "com a força do vácuo",(parecia até fórmula-1), quem empurrava também voava e quem vinha atrás,batia na cadeira da gente...isso sem esquecer as centenas de talos de abacaxi que ficavam espalhadas na cidade depois da festa. (Saudades).