Nascido no dia 23 de novembro de 2006 em Mossoró, Jerônimo Vingt-un Menandro (foto) teve seu nome escolhido desde quando a pedagoga Tânia Maria de Sousa Cardoso constatou em exame médico o formidável fruto que trazia no ventre, fato ocorrido precisamente em dias de abril.
Conheci Jerônimo Vingt-un Rosado Maia e América Fernandes Rosado Maia no ano de 1993, quando os mecenas apresentavam publicações da Coleção Mossoroense em solenidade ocorrida nas dependências do Instituto Histórico e Geográfico na capital paraibana.
Deusdedit Leitão fez a ponte entre a gente, visto que o historiador sertanejo, natural de São José de Piranhas, teve profundos laços de amizade com meu tio-avô paterno de nome Romeu Menandro da Cruz.
Vingt-un Rosado indagou-me sobre a ligação com Lourenço, a quem Raul Fernandes destacou em livro, por título A Marcha de Lampião – Assalto a Mossoró, como Rosado, quando da enumeração dos defensores da trincheira de Saboinha.
“É a mesma referente a Romeu, Dr. Vingt-un. Eles eram irmãos. Também eram irmãos da minha avó paterna, de nome Francisca Martinha da Cruz Cardoso”, respondi-lhe.
Imediatamente Dr. Vingt-un me disse que havia uma relação entre a gente, pois Menandro José da Cruz, pai de todos supramencionados, era meio-irmão de Jerônimo Rosado.
E disse mais, que na seca de 1877-1879, meu bisavô havia auxiliado muito na salvação da família Rosado, sendo utilizado como instrumento de Deus para livrá-la da terribilíssima hecatombe climática, conduzindo-a para a cidade de Cajazeiras dos Rolim, próxima ao oásis fértil do cariri cearense, palmilhando a região com bancas de fazendas, comercializando-as a fim de fomentar a luta pela sobrevivência.
Vingt-un me contou também que Menandro havia sido criado em Pombal por Dona Vicência, esposa do português Jerônimo Ribeiro Rosado, fato que já havia sido destacado pelos mais velhos de minha família.
Eu já tinha ouvido essa história dos meus antepassados, embora sem as riquezas de detalhes daquele grande historiador, o qual na oportunidade tive o prazer de conhecer nas dependências da casa da cultura e da história paraibanas.
O mecenas me confirmou ainda que as homenagens que existiam em nomes dos meus familiares eram em razão da forte ligação que tradicionalmente embasou os dois troncos genealógicos. Tive tios-avós de nomes Jerônimo e Leopoldina em homenagem a dois tios paternos de Vingt-un.
Aproveitando o ensejo, confirmando a sólida relação de amizade e parentesco, Vingt-un frisou reminiscências que apontaram ao primogênito da irmã do farmacêutico Jerônimo Rosado, de nome Herculana Rosado Bandeira, casada com o também paraibano José Bandeira.
O primeiro filho da matriarca da família Rosado, radicada no município de Governador Dix-sept Rosado, a qual também é originária da velha cidade de Pombal, localizada no adusto sertão paraibano, onde estão minhas mais sólidas raízes, chamava-se Menandro Rosado Bandeira.
Foi uma justa homenagem da descendente do português Jerônimo Ribeiro Rosado e da pombalense Vicência da Costa Rosado ao meio-irmão que se empenhou em lutar para que os meio-irmãos sobrevivessem aos rigores da brutal seca que se abateu por três anos durante a década de setenta do século XIX.
Quando do exercício de funções administrativas na exploração do gesso das vossorocas da espadilha e sua imediações, Vingt-un comandou Severino Cruz Cardoso, de quem sou filho.
Entendi mais sobre as minhas idas e vindas a Mossoró, onde sou batizado, e a Governador Dix-sept Rosado, quando de minha infância, antes da trágica perda do meu pai.
Concluída a graduação de licenciatura em geografia no campus central da Universidade Federal da Paraíba, bem como pós-graduações em nível lato sensu, ambas na instituição de ensino superior que traz a marca indelével da luta do paraibano José Américo de Almeida, entrei em contato com Vingt-un, expressando o desejo de me radicar definitivamente na terra de Santa Luzia do Mossoró.
Prontamente atendido, recebi do velho alcaide da cultura potiguar notícia jornalística de concurso a ser realizado no início do ano de 1998, ao qual submeti-me obtendo primeiro lugar.
Fiquei emocionado ao ser recepcionado por Vingt-un e América na residência da avenida Jorge Coelho de Andrade, pois os criadores da Coleção Mossoroense, além de outras obras imortais, não se continham de alegria com a conquista do bisneto de Menandro José da Cruz, sofrido órfão de pai que nunca teve medo de lutar pela sobrevivência e pelo engrandecimento do próximo.
Vingt-un e América me convidaram para assessorá-los no fomento à dinâmica do sonho cultural de Mossoró, o que, sem titubear aceitei incontinenti. Passei a trabalhar diretamente com mitos da cultura brasileira, cujos nomes se eternizam na História da inteligência nacional.
Meu querido amigo vibrou quando concluí o mestrado em desenvolvimento e meio ambiente, orientado pelo amigo Benedito Vasconcelos Mendes, cujo enfoque centrou-se, para orgulho de Vingt-un Rosado, em estudo sobre a importância da caprino-ovinocultura em assentamentos rurais de Mossoró, cujo texto na íntegra compõe o acervo literário da Coleção Mossoroense, assim como o trabalho monográfico de Tânia, por título Cordel, cangaço e contestação: Uma análise dos cordéis “A chegada de Lampião no céu”(Rodolfo Coelho) e “A chegada de Lampião no inferno (José Pacheco)”.
Íntimo de Vingt-un e América e desfrutando da imensa consideração de ambos, confidenciei ao grande amigo que meu segundo filho homenagearia todos os Jerônimos da família, incluindo Jerônimo Menandro da Cruz, filho do patriarca de minha família, bem como ao próprio, cuja memória venero incessantemente. Afirmei a Vingt-un que o bebê teria o nome de Jerônimo Menandro.
Testemunhei o risonho Vingt-un se emocionar com as minhas palavras, e ainda mais quando lhe disse que os padrinhos seriam ele e Dona América. Imediatamente Vingt-un falou-me que àquele seria um prazer indescritível, aceitando apadrinhar Jerônimo Menandro.
Vingt-un cumpriu sua brilhante missão no plano terreno em 21 de dezembro de 2005. Não pôde apadrinhar Jerônimo Menandro, mas em sua homenagem acrescentei Vingt-un quando meu segundo filho nasceu.
Era impossível não demonstrar minha eterna gratidão ao meu amigo, confessor e incentivador, cujas palavras confortantes ressoam presentemente. Benedito Vasconcelos Mendes e Suzana Goretti Leite, aos quais Vingt-un admirava e dedicava, também, imensa amizade, apadrinham Jerônimo Vingt-un Menandro de Sousa Cardoso.
Confesso com franqueza que convidar Dona América, sem Vingt-un, para essa importante missão de apadrinhar o meu Jerônimo, suscitaria emoção traumática indescritível e muito forte, pois admito, sem titubear, não conseguir suportar a ausência física do eterno mestre e conselheiro.
Não tive coragem, Vingt-un é insubstituível, meu maior desejo é que ele tivesse acompanhado o nascimento de Jerônimo Vingt-un Menandro, tivesse feito visita com Dona América quando Tânia descansou, mas nada disso foi possível, o meu mestre se encantou sem poder conhecer nosso esperado segundo filho.
Nada mais justo do que confiar a tarefa a pessoas da mais absoluta estima de Vingt-un, mas, no fundo, meu segundo pai e Dona América serão os padrinhos verdadeiros, representados pelos dois amigos.
Jerônimo Vingt-un Menandro, eis a razão porque ele homenageia dois grandes homens: Jerônimo Vingt-un Rosado Maia e Menandro José da Cruz. Sobrinho e tio, de cuja consideração expresso de forma emocionada, abrindo meu coração para que a essência da pureza que trago comigo flua externando o âmago da minha ternura e do meu imenso apreço por ambos, por suas memórias, vidas e lutas.
José Romero Araújo Cardoso. Professor adjunto do departamento de geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em geografia e gestão territorial e em organização de arquivos. Mestre em desenvolvimento e meio ambiente. Membro do Instituto Cultural do Oeste Potiguar, da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, da Comissão Mossoroense de Folclore e do grupo Benigno Ignácio Cardoso DArão.
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