quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Luís Fernando Veríssimo

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda.


(Veríssimo, Luís Fernando. O gigolô das palavras. In: - . O nariz e outras crônicas. São Paulo: Ática, 11ª ed., 3ª impressão, 2004, p. 92, coleção "Para Gostar de Ler", nº 14.)

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