"Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura… Essa intimidade
perfeita com o silêncio… Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo -
Perdoai-os! - eles não têm culpa de ter nascido... Resta esse antigo
respeito pela noite, esse falar baixo Essa mão que tateia antes de ter,
esse medo De ferir tocando, essa forte mão de homem cheia de mansidão
para com tudo quanto existe. Resta essa imobilidade, essa economia de
gestos Essa inércia cada vez maior diante do Infinito Essa gagueira
infantil de quem quer balbuciar o inexprimível Essa irredutível recusa à
poesia não vivida. Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento Da
matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade Do tempo, essa lenta
decomposição poética Em busca de uma só vida, uma só morte, um só
Vinicius. Resta esse coração queimando como um círio numa catedral
em ruínas diante do cotidiano, ou essa súbita alegria ao ouvir na
madrugada passos que se perdem sem memória..."
Vinicius de Moraes
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