Não faço visitas, nem ando em
sociedade alguma - nem de salas, nem de cafés. Fazê-lo seria sacrificar a minha
unidade interior, entregar-me a conversas inúteis, furtar tempo senão aos meus
raciocínios e aos meus projetos, pelo menos aos meus sonhos, que sempre são
mais belos que a conversa alheia.
Devo-me a humanidade futura. Quanto me desperdiçar desperdiço do divino patrimônio possível dos homens de amanhã; diminuo-lhes a felicidade que lhes posso dar e diminuo-me a mim-próprio, não só aos meus olhos reais, mas aos olhos possíveis de Deus.
Isto pode não ser assim, mas sinto que é meu dever crê-lo.
Fernando Pessoa, 'Inéditos'
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