sexta-feira, 8 de setembro de 2017

O lado engraçado de Pedro Gondim

O meu último livro chama-se "O Lado Engraçado dos Políticos". Nele eu reuni políticos paraibanos que foram destaque na vida do Estado e expus o lado risonho deles. Um dos destacados foi o ex-governador Pedro Gondim, sem favor nenhum uma das maiores lideranças do Estado em todos os tempos. Fui seu amigo já no final de sua vida, ele Procurador do Estado aposentado e eu recém chegado à Procuradoria. Conversamos muito, em tardes e manhãs serenas na sede da Associação dos Procuradores. Dele colhi exemplos e vários acontecimentos da vida estadual. Deleite-se com alguns causos vividos pelo grande Pedro:

Porta errada

Cumprindo mandato de deputado federal em Brasília, Pedro Gondim chegou da Paraíba e foi direto para o seu apartamento. Entrou e anunciou festivamente para a empregada que o servia desde muito tempo:
-Da Luz, Da Luz, trouxe carne de sol para você preparar com aquela macaxeira que veio da Paraíba.
E prosseguiu, adentrando à sala de jantar:

-Cadê Da Luz?

As pessoas que estavam jantando interromperam a refeição e ficaram olhando pra Doutor Pedro sem entender nada.

O deputado entrara no apartamento errado.

Cara dos agiotas

No dia 31 de março de 1964, data do golpe militar que botou o Brasil debaixo dos coturnos dos meganhas por mais de 20 anos, Pedro Gondim deixava o Palácio da Redenção e encontrou-se com o deputado Chico Souto, com quem saiu conversando sobre os últimos acontecimentos políticos.

- Chico Souto, amanhã mesmo poderemos amanhecer sob o jugo de uma ditadura, com o congresso e assembleia fechados. O que você acha dessa situação?

Chico, pitando o cigarro, olha para a estátua de João Pessoa e murmura:

-Eu não acho nada, governador.Eu só quero é ver a cara dos agiotas, pois já vendi o meu salário até o fim do ano”.
Separação de bens

O secretário de Justiça Sílvio Porto estava se atritando com o deputado Joacil de Brito Pereira e o governador Pedro Gondim, que gostava dos dois, chamou-os para propor um acordo que agradasse a ambos. Eles brigavam por causa de problemas políticos em Mulungu, onde eram votados.

Depois de conversar com os dois amigos e colocar os pontos nos iis, Pedro declarou, solene:
-Pronto, está feito o casamento!

Silvio Porto, que não perdia a oportunidade para mostrar sua genialidade, argumentou:
- Certo, governador,mas pelo sim pelo não, casamento com separação de bens”.

Água potável

Inaugurando obras em Antenor Navarro – que depois mudou o nome para São João do Rio do Peixe -, o governador Pedro Gondim hospedou-se na casa do Major Jacob Frantz, chefe político local. Fazia um calor da mulesta dos cachorros e Pedro pediu água para beber. O Major Jacob, feliz por inaugurar seu refrigerador novo (naquela época e lugar ter refrigerador era “status”), serviu pessoalmente o governador, que ao tomar o primeiro gole,elogiou:

-Major, amigo, mas que água potável!

Sentindo-se ofendido, o Major protestou:

-Potável coisa nenhuma, governador, é água de geladeira mesmo e da marca Kelvineitor!”
As mãos de Pedro

Comício em Jaguaribe, Pedro em campanha para governador, as mocinhas suspirando à sua passagem, todas elas abraçando o candidato e beijando suas mãos.Eis que, no meio das mocinhas aparece um gay, que segura as mãos de Gondim e começa a beijar. Robson Espínola, coordenador da campanha de Pedro,ao notar o rapaz alegre, alerta o candidato, que, sem perceber o microfone ligado, grita pra todo mundo ouvir:
-Solta as minhas mãos, seu viado fela da puta!”

A continência

O governador Pedro Gondim foi ao Rio, então Capital do Brasil, buscar verbas junto ao Governo Federal. Integravam a comitiva o Secretário de Viação e Obras Públicas, Robson Espínola e o chefe da Casa Militar, Coronel Sebastião Calixto.

Recebidos no Aeroporto, foram levados ao hotel. Na entrada estava o porteiro, fardado e com um monte de medalhas no peito.Robson, gozador, murmurou para o coronel Calixto:
-Coronel, aí está o general, preste continência ao homem.

O coronel Sebastião Calixto não se fez de rogado: bateu um calcanhar no outro, espalmou a mão esquerda na coxa e, com a direita levantada, bateu continência para o seu superior hierárquico.

Só a Rádio Patrulha

O expediente já estava terminando no Palácio, Pedro se preparava para ir embora,quando apareceu o secretário Valdir dos Santos Lima com um homem se dizendo eleitor fiel de Pedro e com um assunto inadiável para resolver.

A contra gosto, o governador recebeu o homem, que se queixou do delegado de polícia do seu município, que estava comendo a sua mulher. Por isso fora a Palácio exigir a demissão do cabo delegado e, mais ainda, a aplicação de uma surra no galã para aprender a respeitar as famílias.

Pedro ouviu as queixas do corno e não se conteve:

-Meu amigo, assunto de corno não é comigo, é com a Rádio Patrulha!

Convidando pra jantar

Logo após a revolução de 64, o governador Pedro Gondim estava no Palácio da Redenção, quando ouviu um carro volante anunciando a chegada do General Novilar. Pedro ficou entusiasmado, e mandou chamar um oficial de gabinete para fazer a recomendação:
-Providencie um jantar no Cabo Branco, pois farei uma homenagem ao general.
Ele não sabia que o General Novilar era uma loja que estava sendo inaugurada na cidade.

Formando a guarda

O coronel Pedro Belmont, quando era chefe da Casa Militar do Governo Pedro Gondim,foi informado sobre solenidade de recepção no Palácio da Redenção. Era o governador do Lions que ia chegar.

Belmont não entendeu bem, e mandou que a Guarda de Honra fosse preparada, pois pensou que fosse um governador de Estado.Depois de prestadas as honras militares, foi que os membros da comitiva do Clube de Serviço, bastante surpresos, souberam do equívoco.

Primo da minha tia

Diariamente, o deputado Batista Brandão anunciava seu rompimento com o governador Pedro Gondim. Nas primeiras ameaças, a liderança do partido ficou preocupada e procurou contornar a situação. Mas Brandão renovava sempre o interesse em cortar relações com o Palácio da Redenção.

Cansados de insistir, quando Batista Brandão subiu na tribuna com essa ameaça, seus colegas concordaram com o rompimento, mas o deputado, batendo com a mão na testa, lembrou-se:

-Ih, minha gente, só agora me lembro que não posso romper com o governador.Ele é primo da minha tia.

Tião Lucena 

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