Conheci o Frei Beto como assistente de direção do Zé Celso, no Teatro
Oficina, durante ensaios e apresentação da peça O Rei da Vela. Faz muito
tempo. Dia desses viajamos para Florianópolis no mesmo voo e não me
reconheceu. Ontem escreveu uma carta ao Ministro da Justiça, tratando
do massacre de Manaus, no Amazonas. Falou com a autoridade de quem foi
encarcerado durante dois anos nos presídios paulistas, como preso comum,
apesar de ter sido preso político.. Sessenta mortos, a maioria
decapitados e destroçados por bandidos rivais. No citado artigo critica a
construção de novas penitenciárias como parte da solução do problema.
Critica o modelo público-privado, que segundo ele foi importado dos
Estados Unidos, e lá esta sendo revisto. A esquerda não perde o hábito,
de podendo criticar os norte americanos, o fazem por dever de ofício..
Não conheço detalhes do sistema prisional Americano. Sei que a justiça é
célere, e os condenados são tratados com humanidade. Também não conheço
as prisões russas, mas nunca ouvi falar bem delas. Voltando ao
missivista, propõe um sistema prisional para os 660 mil encarcerados no
país, onde seriam submetidos ao regime de redução de penas, de acordo
com a frequência em aulas de ensinos fundamental e médio, idiomas,
culinária, teatro, dança etc. Além de oficinas para, trabalho manuais, e
produção de brinquedos e etc. Tudo isso em parceria com empresas
privadas. E pergunta se é uma utopia. Ele mesmo responde que não. Vejo a
coisa por outro ângulo. Talvez mais da metade dessa população não
devesse estar encarcerada. Atrás de grades. Mofando. Adoecendo. Custando
ao estado R$ 4 100,00 por mês, no caso do Amazonas. Aprendendo a matar,
e se especializando no crime. Na situação atual, são completamente
irrecuperáveis. O problema não é só de polícia, mas de justiça. A
justiça morosa e em muitos casos omissa é tremendamente injusta. Há
nesse universo de 660 mil presos uma grande parcela de condenados que já
cumpriram suas penas, mas a justiça ainda não os soltou. Outra grande
parte de presidiários são usuários de droga, e ladrões de galinha.
Cadeia não é o melhor lugar para recuperar ninguém. Colônias agrícolas, a
céu aberto, com custo muito menor do que as proposições do Frei Beto,
seriam uma boa alternativa. Produziriam para comer. O excedente seria
vendido e a renda reverteria para a própria colônia, em forma de insumos
e equipamentos agrícolas. E para os presos restantes, em número
significativamente menor, penas mais duras. São irrecuperáveis. São
assassinos, traficantes, de altíssima periculosidade, onde pensar em
ressocializa-los é ilusão. A esses sim, tarefas manuais, em ambiente
fechado, e sem redução de pena. Ao contrário, a cada mau comportamento
ou infração, aumento severo da pena. Fico por aqui, embora o tema seja
muito complexo e dele não tenha a experiência do Frei Beto. Lamento não
tenha ele dado sua colaboração, nesse sentido, quando era conselheiro do
Lula. Eles, sim, tiveram treze anos para implantar um sistema
penitenciário mais justo, humano e eficiente.
Eduardo P. Lunardelli
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