Eu adoro cachaça e pelo visto fiz escola em casa. Meu filho que mora
em Berlim pediu que eu levasse alguma coisinha para ele. Sabia da
origem do nome pinga — a primeira cachaça teria sido
bebida por escravos negros de gota em gota, pois a cachaça caía do teto
de onde o melaço fora preparado. Há a teoria de que o líquido também
servira para curar ferimentos das costas de escravos, daí o nome aguardente.
Nos primórdios a cachaça era consumida apenas por escravos e gente da
ralé. Que tolinhos… O texto que segue é do professor e mestre em
História Rainer Sousa.
No começo da colonização do Brasil, a
partir de 1530, a produção açucareira apareceu como primeiro grande
empreendimento de exploração. Afinal, os portugueses já dominavam o
processo de plantio e processamento da cana – já realizado nas ilhas
atlânticas – e ainda contavam com as condições climáticas que favoreciam
a instalação de grandes unidades produtoras pelas regiões litorâneas no
território.
Para que todo esse trabalho fosse
realizado, os portugueses acabaram optando pelo uso da mão de obra
escrava dos africanos. Entre outras razões, os colonizadores notavam que
os escravos africanos eram mais adaptados do que os índios ao trabalho
compulsório, apresentavam maiores dificuldades para empreender fugas e
geravam lucro à Coroa por conta dos impostos cobrados sobre o tráfico
negreiro.
No processo de fabricação do açúcar, os
escravos realizavam a colheita da cana e, após ser feito o esmagamento
dos caules, cozinhavam o caldo em enormes tachos até se transformarem em
melado. Nesse processo de cozimento, era fabricado um caldo mais
grosso, chamado de cagaça, que era comumente servido junto com as sobras
da cana para os animais.
Tal hábito fazia com que a cagaça
fermentasse com a ação do tempo e do clima, produzindo um liquido
fermentado de alto teor alcoólico. Desse modo, podemos muito bem
acreditar que foram os animais de carga e pasto a experimentarem
primeiro da nossa cachaça. Certo dia, muito provavelmente, um escravo
fez a descoberta experimentando daquele líquido que se acumulava no coxo
dos animais.
Outra hipótese conta que, certa vez, os
escravos misturaram um melaço velho e fermentado com um melaço fabricado
no dia seguinte. Nessa mistura, acabaram fazendo com que o álcool
presente no melaço velho evaporasse e formasse gotículas no teto do
engenho. Na medida em que o liquido pingava em suas cabeças e iam até a
direção da boca, os escravos experimentavam a bebida que teria o nome de
“pinga”.
Nessa mesma situação, a cachaça que
pingava do teto atingia em cheio os ferimentos que os escravos tinham
nas costas, por conta das punições físicas que sofriam. O ardor causado
pelo contato dos ferimentos com a cachaça teria dado o nome de
“aguardente” para esse mesmo derivado da cana de açúcar. Essa seria a
explicação para o descobrimento dessa bebida tipicamente brasileira.
Inicialmente, a pinga aparecia descrita
em alguns relatos do século XVI como uma espécie de “vinho de cana”
somente consumida pelos escravos e nativos. Entretanto, na medida em que
a popularização da bebida se dava, os colonizadores começaram a
substituir as caras bebidas importadas da Europa pelo consumo da popular
e acessível cachaça. Atualmente, essa bebida destilada é exportada para
vários lugares do mundo.
Fonte e créditos
Blog do Milton Ribeiro
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