Creio que o vislumbrei através do espaço dos
castigos:
o sótão, a parede, a sala vazia das escolas e
colégios.
E também as igrejas e o quartel, que eram
outras formas de punição.
Devo ter-me portado muito mal - como diz quem
se porta bem - para a minha formação lhes ter merecido tantas atenções.
Depois aprendi outros silêncios:
a vastidão das fazendas, em Salgueirais, a
solidão dos montes alentejanos, a parada do quartel, em Santa
Margarida.
Quando comecei a fugir, às vezes parava o carro
e saía para ouvir a noite.
Mas a única vez que me senti perto do silêncio,
foi em Aragão, no meio dos Montblancs.
Ao contrário do que me disseram, ou julgava ter
ouvido, a morte é a coisa menos silenciosa.
Pelo menos, a avaliar pelos vivos.
Dizem, ou melhor, acusam-me cada vez com mais
frequência, que estou a ficar descompreendido.
Se calhar, julgam eles, para me pouparem o
desgosto de estar a ensurdecer.
Quem me conhece, sabe como cultivo essa espécie
de autismo, onde julgo encontrar-me com o silêncio.
Mas, embora silenciosa, não creio que a surdez
seja a via do silêncio.
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