sexta-feira, 15 de março de 2013

Recebi do amigo Adauto o e-mail abaixo, que por sua feliz seleção de poemas de Mário Quintana, peço-lhe permissão para publicá-los na íntegra!
 
Um forte abraço amigo.
 
______
 
"Caro Poeta,
Os cinco poemas, abaixo transcritos, do grande Mário Quintana, versam sobre o poeta, a poesia e a palavra entranhados no mundo imaginário e real para dar mais beleza ao mundo.
Boa degustação! Um abraço,
 
Adauto".
 
O poeta
 
Venho do fundo das Eras,
Quando o mundo mal nascia,
Sou tão antigo e tão novo
Como a luz de cada dia.
(Preparativos de viagem)

 
O poeta é belo
 
O poeta é belo como o Taj-Mahal
feito de renda e mármore e serenidade
O poeta é belo como o imprevisto perfil de uma árvore
ao primeiro relâmpago da tempestade
O poeta é belo porque os seus farrapos
são do tecido da eternidade
(Preparativos de viagem)
 
 
 
O poeta canta a si mesmo
 
O poeta canta a si mesmo
porque nele é que os olhos das amadas
têm esse brilho a um tempo inocente e perverso...
O poeta canta a si mesmo
porque num seu único verso
pende — lúcida, amarga —
uma gota fugida a esse mar incessante do tempo...
Porque o seu coração é uma porta batendo
a todos os ventos do universo.
Porque além de si mesmo ele não sabe nada
ou que Deus por nascer está tentando agora ansiosamente respirar
neste seu pobre ritmo disperso!
O poeta canta a si mesmo
porque de si mesmo é diverso.
(Preparativos de viagem)
Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...


(Esconderijos do tempo)


 Selva selvaggia

 
As palavras espiam como animais:
umas, rajadas, sensuais, que nem panteras...
outras, escuras, furtivas raposas...
mas as mais belas palavras estão pousadas nas frondes mais altas, como pássaros...
O poema está parado em meio da clareira.
O poema
caiu
na armadilha! debate-se
e ora subdivide-se e entrechoca-se como esferas de vidro colorido
ora é uma fórmula algébrica
ora, como um sexo, palpita... Que importa
que importa qual seja enfim o seu verdadeiro universo?
Ele em breve será inteiramente devorado pelas palavras!


(Esconderijos do tempo)

2 comentários:

Marisa Bello disse...

Que feliz publicação! Amo os poemas de Mário Quintana! Bom fim de semana!

Jairo Alves disse...

"Mas este Gaúcho, mas essa sua poesia, deixa a gente comovido como o seu próprio poema"...

"Se eu me chamasse Raimundo, não seria uma soçução, seria uma rima"

Drummod

"não seria uma solução mesmo, será, mais uma de de suas rimas maganificas..."

Drummond


Muito bacana a idéia do caríssimo Dr. Adaulto!

Um grande abraço do amigo velho aqui!