Não há, nem poderia haver, a pretensão de publicar neste espaço um resumo que
fosse de 'Ética a Nicômaco'. Aqui só pretendemos lembrar que esse tratado mais
do que nunca precisa ser lido em nosso país. Ética e Política são inseparáveis
em toda a obra de Aristóteles.
O filósofo não negligencia nem a Política, nem a Moral ao desenvolver sua
concepção do que deve ser a vida dos cidadãos e se pronuncia sempre em direção à
busca da Virtude, que deve ser a essência da Cidade. (Que, é bom recordar, tem
na época o sentido de Cidade-Estado).
*A virtude ética é adquirida pelo hábito; não nascemos com ela, mas nossa
natureza é capaz de adquiri-la e aperfeiçoá-la. A virtude tem dois aspectos, o
intelectual e o moral; a virtude intelectual (sabedoria) provém em sua
maior parte da instrução, que lhe é necessária para se manifestar e se
desenvolver. Também exige prática e tempo, enquanto a virtude moral
(prudência) é filha dos bons hábitos.
*Não nascemos com nenhuma virtude moral; na verdade, nada modifica uma
condição que nos é dada pela natureza; por exemplo, a pedra tem um peso que é
seu: nada muda essa situação, nem que ela seja jogada ao ar mil vezes ela
perderá seu peso; o fogo não saberia descer, só sabe subir; e assim
sucessivamente com todos os corpos que não podem modificar suas características
originais. Ao nascer, não temos nem virtudes, nem vícios.
*Não é pois por um dom da natureza que uma virtude nasce em nós; somos sim
naturalmente predispostos a adquiri-la e vivenciá-la, desde que a aperfeiçoemos
pelo costume, assim como acontece com as artes e os ofícios.
*Aquilo que deve ser estudado, aprendemos pela prática: é construindo que nos
tornamos arquitetos; é tocando a cítara que nos tornamos citaristas.
*O mesmo acontece com as virtudes. De tanto enfrentar situações perigosas e
de nos habituar ao medo ou à audácia, passamos a ser pusilânimes ou
corajosos.
*A virtude ética está relacionada com sentimentos e ações. No entanto, agir
virtuosamente e ser virtuoso são coisas diferentes. Ser virtuoso requer três
coisas: a) que a pessoa saiba o que está fazendo; b) que tenha a intenção de
fazer o que está fazendo; c) que tenha essa intenção por saber que é o mais
correto e por nenhum outro motivo; d) e que aja com firmeza e determinação.
*Sendo assim, o modo como somos educados desde a infância não tem pouca
importância. Que digo? Tem importância extrema, na verdade é essencial. Por isso
é importante exercer nossas atividades de modo virtuoso, determinadamente, pois
as diferenças de conduta podem criar hábitos diferentes em quem nos cerca.
*Vejamos o que acontece nas cidades: os legisladores, ao bem habituá-los,
formam cidadãos virtuosos. E essa deve ser a intenção de todo legislador. Todos
aqueles que não se comportam assim, deixam de cumprir seu papel, pois é só por
aí que uma Cidade difere da outra, uma boa Cidade de uma cidade má.
Aristóteles nasceu em 384 a.C, em Stagira, na margem
norte do Mar Egeu. Seu pai, médico do rei da Macedônia, se chamava Nicômaco,
nome que ele depois deu a seu filho. Foi preceptor de Alexandre, o Grande.
Quando Alexandre já não precisa mais dele, ele volta para Atenas onde funda o
Liceu. É a um seu aluno que devemos a herança de ler o que ele escreveu. Faleceu
em Atenas, em 322 a.C.
*Excertos traduzidos livremente de diversas traduções do original
grego.

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