terça-feira, 2 de março de 2010

Retrato


Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?


Cecília Meireles

Um comentário:

Jairo Alves disse...

"-Em que espelho ficou a minha face?"

Se eram estes, os hóspedes protagonistas da tua juventude, como iriam devoverem as bagagens,
dos seus confetos e memórias, ao Museu de apenas um olhar?

Cecília, está em qualquer espelho, olhando para sempre, a sua inestimável fisionomia...