quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Conta de vidro


Guarde sempre uma lágrima no canto do olho,
uma reserva de pranto, uma saudade de molho;
quando um dia não chegar o amor que tanto esperas,
quando o coração pesar em meio às trevas, às guerras,
e tua alma soterrada não souber mais o caminho,
quando o tempo te mostrar, além da flor, o espinho.
Teu corpo já não descansa, nem no vazio da estrada,
uma porta entreaberta e, logo, uma curva fechada:
é a dor que te espreita, estás sozinho.
Guarda sempre aquela gota, dela irás precisar.

Podes rir, enquanto isso - esperneia, vai, consome-te,
mas não te esqueças de guardar essa reserva de pranto
que um dia irá te salvar,
quando a Noite sobre ti estender seu negro manto,
quando o sol, ao despontar, já não trouxer mais o dia:
só neblina, só chover! As nuvens de vidro, aquele molho,
será a tua salvação na estrada fria.
E mais? não deixa endurecer jamais teu coração,
lubrifica teu olho
e te alivia.


Pedro Lage

Um comentário:

Unknown disse...

NÃO TEM JEITO...O OLHO É O ESPELHO DA ALMA !!! :)