Dizem que é um gênero que se popularizou no Brasil mais do que em outras culturas. A crônica é uma espécie de transgênico literário, um texto em prosa que flutua entre gêneros diferentes de acordo com a veneta do redator naquele dia e naquela hora. Muitas vezes a crônica tem algo de parábola, porque envolve pequenos fatos do cotidiano em reflexões mais amplas. Ela enriquece de significados as pequenas coisas, e numa literatura diária (de jornal), como a nossa, há mais de um século que beletristas afiam suas penas-de-ganso em temas como “uma gota de chuva”, “um grão de areia”, “a ponta de um lápis”, “um cãozinho abandonado” e assim por diante. Começou como uma espécie de teste de habilidade: O que você consegue dizer sobre um assunto tão limitado? E hoje já subiu de nível: O que você consegue dizer sobre isto, que já não tenha sido repetido nos últimos cento e vinte anos?
Este texto, por exemplo, não é uma crônica. Chamo isto de artigo: um texto onde, com ou sem a presença do “eu” que narra, descreve, opina, o foco está na elucidação de uma questão intelectual precisa – no caso, a definição do que é crônica. Pouca elaboração literária, pouca “viagem mental”, pouca ligação direta com a vida pessoal do redator. O que não significa que o mesmo redator não possa, eventualmente, discutir o sentido do gênero “crônica” numa crônica propriamente dita. O que não se dá aqui, neste artigo de viés utilitário, prático, meramente descritivo.
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
Nenhum comentário:
Postar um comentário