Um estudo publicado na Science descobriu que os mamíferos estão se tornando mais noturnos em resposta à atividade humana.
(Créditos da imagem: Jamie Hall).
A atividade humana está fazendo com que
os mamíferos do planeta fujam da luz do dia para a proteção no escuro da
noite, de acordo com um novo estudo da Universidade da Califórnia em
Berkeley (UC Berkeley).
O estudo, publicado na revista científica Science, e apoiado em parte pela National Science Foundation
(NSF), representa o primeiro esforço para quantificar os efeitos
globais da atividade humana nos padrões diários de atividade da vida
selvagem. Os resultados destacam o processo poderoso e amplamente
difundido pelo qual os animais alteram seu comportamento ao lado das
pessoas: a perturbação humana está criando um mundo natural mais
noturno.
“As perdas catastróficas em
populações de animais selvagens e habitats como resultado da atividade
humana estão bem documentadas, mas as maneiras mais sutis pelas quais
afetamos o comportamento animal são mais difíceis de detectar e
quantificar”, disse em um comunicado da UC Berkeley a estudante de doutorado e principal autora do estudo, Kaitlyn Gaynor.
Gaynor, juntamente com os coautores
Justin Brashares e Cheryl Hojnowski, da UC Berkeley, e Neil Carter, da
Boise da State University, aplicaram
uma abordagem de meta-análise, usando dados de 62 espécies em seis
continentes para procurar mudanças globais no tempo de atividade diária
de mamíferos em resposta a influência dos seres humanos. Esses dados
foram coletados por várias abordagens, incluindo câmeras disparadas
remotamente, GPS e colares de rádio e observação direta. Para cada
espécie em cada local de estudo, os autores quantificaram a diferença na
noturnalidade animal sob baixa e alta perturbação humana no ambiente.
Em média, segundo o estudo, os mamíferos
foram 1,36 vez mais noturnos em resposta a distúrbios humanos. Isso
significa que um animal que naturalmente divida sua atividade
uniformemente entre o dia e a noite aumentou sua atividade noturna para
68% quando em ambiente próximo a pessoas.
Esse achado foi consistente entre
espécies de carnívoros e herbívoros de todos os tamanhos de corpos
maiores que um quilograma (pequenos mamíferos não foram incluídos no
estudo). O padrão também se aplica a diferentes tipos de distúrbios
humanos, incluindo atividades como caça, caminhadas, mountain biking e
infraestrutura, como estradas, assentamentos residenciais e agricultura.
Castor-europeu (Castor fiber) no centro de uma grande cidade francesa. (Créditos da imagem: Lauren Gesli).
“Nós examinamos os efeitos
antropogênicos sobre os padrões de atividade dos mamíferos, conduzindo
uma meta-análise de 76 estudos de 62 espécies de seis continentes. Nosso
estudo global revelou um forte efeito dos seres humanos nos padrões
diários da atividade da vida selvagem. Os animais aumentaram a sua
noturnalidade por um fator médio de 1,36 em resposta a perturbações
humanas”, relataram os pesquisadores.
De acordo com Brashares, professor do Departamento de Ciência, Política e Administração Ambiental
e principal autor do estudo, as consequências da mudança comportamental
na vida selvagem podem ser vistas através de lentes contrastantes. “Do
lado positivo, o fato de que a vida selvagem está se adaptando para
evitar humanos temporariamente pode ser visto como um caminho para a
coexistência de humanos e animais selvagens em um planeta cada vez mais
lotado”, disse Brashares. “No entanto, os padrões de atividade
animal refletem milhões de anos de adaptação — é difícil acreditar que
podemos simplesmente espremer a natureza na metade escura de cada dia e
esperar que ela funcione e prospere”.
No artigo, os autores descrevem uma gama
de potenciais consequências negativas das mudanças que relatam na vida
selvagem, incluindo desequilíbrios entre o ambiente e as características
de um animal, perturbação do comportamento normal de forrageamento,
aumento da vulnerabilidade a predadores não humanos e aumento da
concorrência. Eles ressaltam, no entanto, que, embora muitos dos estudos
incluídos em sua meta-análise tenham documentado um claro aumento na
atividade noturna, poucos examinaram as consequências para os animais,
populações ou ecossistemas individuais.
“Esperamos que nossas descobertas
possam abrir novos caminhos para a pesquisa da vida selvagem em
paisagens dominadas por humanos. Ainda temos muito a aprender sobre as
implicações dos padrões alterados de atividade para o manejo de
populações de animais selvagens, interações entre espécies e até mesmo a
evolução induzida pelo homem”, disse Gaynor.
Referência:
- GAYNOR, Kaitlyn M. et al. “The influence of human disturbance on wildlife nocturnality”; Science, 2018. Acesso em: 15 jun. 2018
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