sábado, 29 de fevereiro de 2020

Como o meu desequilibrado e inconstante coração ... se prendeu a ti!

Como um raminho de hera que criou raízes e que se agarra cada vez mais. Vim para os teus braços chicoteada pela vida e quando às vezes deito a cabeça no teu peito, passa nos meus olhos, como uma visão de horror, a minha solidão tamanha no meio de tanta gente!

A minha imensa solidão de dantes que me pôs frio na alma. 

Eu era um pequenino inverno que tremia sempre; era como essa roseira que temos na varanda ...que está quase sempre cheia de botões mas que nunca dá rosas! 

Na vida, agora há só tu e eu, mais ninguém. De mim não sei que mais te dizer: como bem mas durmo mal; falta-me todas as manhãs o primeiro olhar duns lindos olhos claros que são todo o meu bem.

Florbela Espanca, in "Correspondência"

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