sábado, 23 de junho de 2018

Prefácio

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) —
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
e tarefas muitas —
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar o
silêncio das coisas anônimas —
passaram essa tarefa para os poetas.

Manoel de Barros, do livro “Concerto a céu aberto para solos de ave” (1981), em ‘Poesia completa: Manoel de Barros’. São Paulo: Editora Leya, 2010.

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