quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Os picaretas

Se eu não tivesse sido educado por Dona Creusa e Dr. Adrião Pires e não tivesse sido aluno de Dona Maria Bronzeado, correria grande risco de ser um picareta. Possuo uma enorme biblioteca sobre o tema. Meu filme de cabeceira é “O golpe de mestre”. É fascinante a matéria porque a picaretagem só funciona se as vítimas quiserem ser enganadas. Aquela coisa da vantagem. Meu avô já dizia que quem come usura caga maçaroca.

No meu escritório de advocacia já vi de tudo, inclusive contei aqui a história de fulano, formado em Direito, homem experiente e vivido que perdeu 27 mil reais com a promessa de receber um precatório que no íntimo ele sabia não existir, mas talvez quisesse acreditar numa benemerência do poder judiciário.

Tenho historias muito mais cabeludas, que não posso contar sem atingir a honra de autoridades que sei absolutamente honestas, mas cujos nomes foram usados indevidamente por picaretas para enganar suas vítimas. Na verdade, os picaretas chamam suas vítimas de sócios, porque no negócio o picareta entra com a experiência e a vítima com o dinheiro. No final o picareta fica com o dinheiro e a vítima com a experiência. Não deixa de ser uma sociedade, hem?

Lembro de um caso escandaloso, ocorrido há mais de 20 anos, onde a vítima foi procurada por um suposto escritório de advocacia que conseguiria diminuir o valor mensal e milionário da contribuição previdenciária que ele recolhia, coisa aí de 1 milhão. Pagaria somente 30% do valor, sendo que os “advogados” ganhariam apenas 10% disso. Combinado o serviço, mensalmente ele entregava aos picaretas os 300 mil e posteriormente recebia a guia autenticada pelo banco oficial. Tempos depois a trama foi descoberta e ele constatou que os tais sócios nunca recolheram nada, ficavam com os 300 mil que supostamente iam para a Previdência. Limitavam-se a usar uma máquina velha que arremataram num leilão de bens inservíveis do tal banco e eles mesmos fazia a autenticação.

Quando perguntei à vítima por que acreditara no golpe, ele foi muito sincero: “- Mas Doutor, eles me garantiram que Sua Excelência era quem comandava o esquema”.

Me digam, honestos leitores, um cidadão desses é inocente?

Hoje o meu abraço vai para os amigos leitores Mozart, Murilo Paraiso e Bessanger.

Marcos Pires
Do blog do Tião

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